Amor Platônico.

Todos nós temos um amor platônico. Essa afirmação pode até soar autoritária. Mas mesmo assim continuo afirmando que todos nós temos, realmente, um amor platônico. Aquele guardado no fundo da alma. Ninguém sabe. Não confidenciamos esse amor com ninguém mesmo, nem com o mais íntimo amigo. Mas eu acho que, talvez, esse amigo desconfie de alguma coisa; mas como amigo é sempre aquele que nunca nos atormenta, ele acaba ficando quieto. Pois bem, também tinha meu amor reservado. E aqui começa a minha história.
Nesse tempo eu estava namorando. Acabava de completar 3 meses. Ela era uma garota de cabelos curtos e olhos castanhos claros, que num reflexo de luz mais forte do sol chegavam a ficar quase verdes. Não que isso tenha muita importância para mim, acho que a cor dos olhos são simplesmente a cor dos olhos e nada mais do que isso, mas para efeito de narrativa desse meu caso, detalho para vocês essa fisionomia de minha namorada.
Eu a tinha conhecido num desses festivais de cinema que pipocam pela cidade. Lá estava eu na fila dos ingressos quando sinto um esbarrão no meu ombro, volto-me e vejo 4 pessoas que tentavam, na maior cara de pau, cortar a fila; eu, que sou avesso a esse tipo de atitude, logo que a vi lancei um olhar de indignação. Ela sorriu. Cai na armadilha. Logo depois estavámos sentando lado a lado da poltrona, conversando muito. O filme?, até hoje não sei do que se tratava. Mas valeu a pena.
Nosso relacionamento ia bem, saíamos bastante, tínhamos quase o mesmo gosto, conversávamos muito sobre tudo, desde culturas pré-colombianas até futebol de várzea que eu acompanhava aos domingos de manhã num dos últimos campos que sobrou, já que quase todos os campos de futebol tinham se transformado em prédios da CDHU. Ela, quando dormia em casa do sábado pro domingo, também passou a ir comigo nesses jogos. Era muito divertido vermos aqueles jogadores de fim de semana se racharem naquele campo de terra seca. Aquelas barrigas de cervejas iam e viam, não correndo, pois acho que isso era pedir demais para aqueles jogadores, mas o ritmo de jogo até que não fazia feio não. Já vi muito dito profissional de futebol jogar pior do que esses de várzea. Ali, naquele espaço de terra com duas traves, ali sim tinha suor, garra, respeito pelo esporte. Eu admirava isso naqueles pançudos, mesmo que alguns não tivessem técnica nenhuma, mas a raça contava e ditava o ritmo do jogo.Divaguei um pouco sobre a arte futebolística, uma de minhas paixões, para mostrar para vocês o quanto nosso relacionamento era eclético.
Agora voltando ao caso do amor platônico, tenho a dizer para vocês que sempre, sempre mesmo, por mais feliz que eu estava ao lado daquela garota ruiva de cabelos curtos – e mesmo em outras relações anteriores, que sempre foram curtíssimas, eu pensava na outra, no amor não correspondido. Para ser sincero não sei se realmente era um amor não correspondido, pois acho que ela nem sabia que eu sentia tamanha paixão. Ou se sabia, fingia muito bem. Éramos amigos de longa data; tínhamos nos conhecidos, se não me falha a memória, na 4º ou 5º série, a partir daí não nos desgrudamos mais. Mas o meu amor por ela, ou pelo menos eu descobri isso nessa época, começou quando eu estava com 22 anos. Passei a notar outras características nela, além da beleza.Sempre estavámos em contato, saíamos juntos, conversarmos bastante. Também sobre, quase, tudo, pois ela, ao que me parecia, não gostava muito de futebol, mas gostava de cinema e artes. Isso me agradava muito. Era uma pessoa muito inteligente e muito, mas muito bonita mesmo. Mas - isso é a pura verdade - não era sua beleza que me atraia, era outra coisa. Não sei bem o que. Seu jeito descontraído. Sua voz, seu jeito de falar, seu comportamento diferenciado. Tudo isso e muito mais coisas que não preciso relatar aqui.
Mas agora eu estava namorando e como saíamos bastante eu quase não tinha tempo de ver ou sair com essa minha amiga. Às vezes, confesso friamente, dava uma desculpa esfarrapada - que acho mesmo que minha namorada não acreditava muito mas deixava prá lá só para não criar uma confusão boba – e saía com minha amiga. Gostava de sair com ela. Estavámos sempre felizes juntos, ali não havia lugar para a tristeza, por mais aborrecidos que estivéssemos, quando nos encontrávamos tudo se alterava, deixávamos tudo do lado de fora. Sem contar que eu era louco por ela. Ficava olhando para ela de uma forma a endeusa-la. Queria agarra-la, beijar-lhe toda. Era uma sensação muito louca mesmo. Mas também gostava de sua companhia. Sua feminilidade me deixava transtornado. Seu cheiro penetrava pelas minhas narinas a ponto de me fustigar por inteiro.
Minha namorada já a havia conhecido, tinha gostado muito dela, acho que as duas davam uma boa dupla. Ficava imaginando transar com as duas ao mesmo tempo. Acho que seria tudo que um homem poderia pedir da vida. Fazer sexo com duas mulheres maravilhosas, lindas e inteligentes. Seria como ganhar um monte de vezes na loteria, bom, pelo menos eu acho isso. Como isso não ocorreria, ficava nos meus pensamentos solitários. Minha namorada era uma pessoa muito inteligente e tudo, mas não toparia uma parada dessas e a minha amiga, por mais maravilhosa que fosse, tinha seu lado conservador. Isso ela já tinha me dito numa conversa sobre casamento e filhos. Ela sonhava em casar numa igreja (católica) toda decorada de orquídeas e flores coloridas, e constituir famílias com 2 filhos. Não que eu seja contra isso, mas casar talvez seja uma coisa que eu não deseje muito nesse momento e filhos também não estavam nos meus planos.
Hoje penso que isso tenha me guardado um pouco sobre uma aproximação mais detalhada com essa minha amiga. Simples que um desejo se concretize, ou mais ou menos simples. Em primeiro lugar temos que agir, fazer o movimento. Eu não, não agia de forma nenhuma. Era um verdadeiro idiota com um amor platônico. Aliás, já ouvi, ou já li em algum lugar, que o amor platônico tem que se manter dessa forma, endeusamos alguém, no caso do homem, transformamos nossa querida numa musa. Então era isso, essa amiga era minha musa. Não tinha coragem de falar pra ela o quanto eu gostava dela e queria fazer sexo com ela e beija-la e ficar a seus pés, como Leminski escreveu num poema.
As coisas continuavam do mesmo jeito. Minha vidinha prosseguia. Não era um cara infeliz. Vivia bem com minha namorada e levava algumas coisas, como quase todos – na base do vamo-que-vamo. Em suma, era uma pessoa comum. Agora, leitores, antes de continuar minha história, gostaria de adverti-los para a tragédia eminente que se virá. Os que forem muito sensíveis ou de estômago fraco, peço que não continuem a ler, pois o que relato a seguir é a mais pura tragédia, que nem os próprios autores gregos tiveram a coragem de escrever. Tocamos em frente.
Certa vez tínhamos marcado uma saída, iríamos ver um filme. Cheguei sozinho e encontro a minha deusa. Nem preciso falar o quanto fiquei feliz. Ela não estava sozinha, tinha mais algumas pessoas com ela. Uns amigos e amigas, alguns também eram meus conhecidos, outros eu nunca tinha visto. Nos apresentamos. Minha atenção era só para a divindade ali presente. Conversamos muito. Sobre o filme, sobre a vida, sobre tudo. Não queria que minha namorada aparecesse. Estava muito bem acompanhado. Seria um aborrecimento se ela aparecesse naquele instante. E não é que alguns desses espíritos bondosos que, dizem, ficam nos rodeando, resolveu agir em minha causa. Minha namorada me liga dizendo que está mal. Tinha vomitado muito e não conseguia sair da cama. Ainda fiz teatrinho, dizendo que se ela quisesse eu iria ao seu encontro e outras coisas mais que nós falamos sem vontade só para fazer uma média e mostrar o quanto somos atenciosos com o outro ser.Ela não deixou eu ir. Disse que gostaria que eu visse o filme e depois comentasse com ela. Tudo certo. Ainda insisti um pouco mais. Não. Ela estava convicta que eu tinha que ver o filme. Frisei o quanto estava preocupado com sua saúde. Minha musa ali do meu lado e eu só pensando nela e minhas palavras jogadas para minha namorada; pura hipocrisia. Sou um hipócrita, pensei entre uma frase e um olhar. Mas logo a seguir desisti de ser hipócrita e me tornei um Dom Juan, puro e simples. Mas não sou domjuan porra nenhuma. Desliguei o celular e, contentíssimo, avisei a todos que entrássemos pois minha namorada estava mal e não viria. Sentei ao lado da divina. De vez em quando encostava o meu braço no seu braço. Pegava sua mão. Essa mulher me deixava alucinado. Como pode isso? Quando estava ao seu lado eu não era eu, ou era realmente eu verdadeiro? Sei lá.
Saímos. Filme medíocre. Atores medíocres. Ela gostou. Não acredito. Gostou da fotografia, do roteiro. Sério? Tudo bem, não podíamos ser igual em tudo. Talvez fosse melhor haver umas desavenças de vez em quando. Afinal éramos pessoas com diferentes jeitos de viver e de pensar. Mas confesso que minha deusa me deixou um pouquinho decepcionado. Mas logo passou.Fomos a um bar ali perto do cinema. Tomamos umas cervejas. Quem sabe a bebida amoleça seu coração e seus olhos. Engraçado, às vezes realmente percebo um toque diferenciado seu na minha mão. Um olhar mais profundo. Algo como um pedido de foda-me inteira seu otário. Era a bebida. Já tinha tomado umas 6 cervejas. Realmente estava meio alto. Alguém na mesa pergunta sobre minha namorada. Idiota. Amanhã a verei. Pergunta idiota, rompeu todo o feitiço. Estava quase...tudo bem. Digo que ela teve um mal estar. Nem poderia imaginar que aquele espírito que eu achava que fosse bondoso estava prestes a me sacanear.
Levantamos. Como não morávamos perto um do outro, deixei minha amiga num ponto de ônibus ali perto. As outras pessoas seguiram outro rumo. Ainda fiquei um tempo com ela naquele ponto, abraçados. Como gostaria de contar-lhe o que sinto. Essa não era a primeira vez que ficávamos abraçados, sempre estavámos assim. Fui pra casa. Chegando fiz a minha parte, liguei pra minha namorada. Ela tava mal mesmo. Amanhã vou aí.
Fui. A garota tava amarela. Menti dizendo que estava bonita mas acho que ela não acreditou muito. Me olhava com um ar sério, daqueles que você já acha que algo de ruim aconteceu ou vai acontecer. Sua mãe apareceu no quarto. Mulher bonita, uns quarenta e poucos anos. Transaria com ela numa boa. Mas acho que eu não fazia seu tipo. Nos cumprimentamos. Minha sogra. Caralho. Eu com sogra era uma mudança social tremenda. Mas tudo nesse universo se transforma mesmo. Ela, numa mistura de mãezona e Adolf Hitler ordenou que eu fosse a farmácia comprar um desses negócios para fazer o teste de gravides. Com toda a sua experiência já tinha feito o prognóstico.
Aliás, nesse momento eu também já tava meio desconfiado. Geralmente esses enjôos são fatais. Fiquei perturbado. Acho que fiquei tão pálido, ou de outra cor qualquer, que minha sogra me cutucava para ver se eu estava vivo mesmo. Tentava manter a calma, pensando que ainda não tinha acontecido nada. Tudo era previsões. E se acontecesse? Fudido! Eu estaria fudido. Não tenho a mínima condição de ser pai e ainda mais com uma garota que eu não amava tanto assim.
Fomos até a farmácia. Eu e minha sogra, já que minha namorada não estava em condições de nada, a maldita. Então lá estou eu no carro da minha sogra com um desses invólucros para auto exame. E se ela estivesse realmente grávida. Casar?, nem que me matem. Só isso passava pela minha cabeça e acho que pela da minha sogra também, pois justamente isso o que ela falou. Titubeei um pouco, escorreguei daqui, gaguejei dali. Chegamos na casa dela. Deixei as duas no quarto, fui tomar um copo de água. Minha vontade nesse momento era de sair correndo daquela casa. Nunca mais ninguém iria me ver, mas aí pensei na minha paixão. Relaxei um pouco. Também um filho não era o fim do mundo e ainda mais hoje em dia, ninguém casa. As famílias são outras. Conheço pessoas que têm filhos mas cada um na sua. Às vezes eles nem cuidam direito da criança.
Um grito. Saio correndo, pro quarto, minha sogra chorando, minha namorada chorando muito mais. Eu ainda tive a coragem de perguntar o que tinha dado. Não houve respostas. Nem precisaria. Eu, na flor da idade, iria ser pai. Confesso que não fiquei nem um pouco emocionado. Minha vontade era de desaparecer até que num súbito alvoroço da cabeça, fui até minha namorada e a abracei. E agora?Fui pra casa pensando o que fazer. Tinha que maquinar algo. Mas o quê?
Meu celular toca. Minha musa. Oi. Digo-lhe o que houve. Ela fica estupefata. Não sabe se me dá os parabéns. Falo que não é necessário. Então pergunto o que ela queria. Quer me dizer que conheceu um carinha, mas que isso não tem importância agora e depois iria me contar mais detalhes desse fila-da-puta. Desgraçada do inferno. Me mata cadela. Um punhal no peito. Eu quero morrer. Se bem que não era o primeiro “carinha” que ela ficava. Mas nesse estado em que eu me encontrava, parece que esse seria o seu príncipe encantado. Finjo estar feliz, com o filho e por ela. Digo-lhe que estou muito emocionado para sair com eles. A coisa me pegou de surpresa. Ela, como sempre, entende.
Choro muito, de raiva. Fico o dia todo em casa. Domingo acordo cedo, não vou ao futebol. Eles se viram sem mim.Quero dizer para vocês que a decisão já estava tomada. Passei a noite inteira tramando isso, que relatarei a seguir. Como tinha dito, não fui ao futebol de manhã. Fui e outro local, menos charmoso, mas, dependendo da nossa situação, muito eficiente. E essa minha atual situação era desesperadora e por isso mesmo exigiu uma medida tão ou mais desesperadora ainda.
Fiz o que tinha que ser feito e não me arrependo de nada.Depois, com tudo estrategicamente planejado fui à casa de minha namorada. Ela estava em pé na cozinha. Oi. Perguntei como ela estava. Bem melhor. Então perguntei onde estava sua mãe. Estava no quarto. Disse-lhe que precisava falar com as duas. Chamou. Uma cara de questionamento. Não dei muita importância para isso. Iria fazer o que eu havia pensando. Não restava outra alternativa e eu mesmo não queria outra. Fomos, os três, para a sala. Elas duas ali sentadas me olhando atentamente. Tirei a mochila das costas. Elas continuavam a me olhar. Abri bem devagar e tirei a arma. Um 38 velho e enferrujado. Quando elas viram a arma na minha mão ficaram atônitas e começaram a gritar. Não deu tempo pra mais nada. Dei três tiros. Um na minha namorada, afinal eu gostava um pouco dela. Pegou bem no peito. Preciso. Direto. Ela tombou pro lado com a boca semi-aberta. No mesmo instante. Como se fosse um desses atiradores de filme de ação, disparei duas vezes contra minha sogra. Ela, que já fazia menção de se levantar, caiu sentada no sofá. Um tiro pegou no pescoço. Minha intenção era a cabeça. A outra bala foi na barriga. Aquela barriga que ela cultivava com muito exercício agora estava com um buraco e suja de sangue. O sangue ficou meio pastoso. Meio escuro.
Foi incrível essa sensação. Era a minha primeira vez. Nunca tinha nem atirado antes. Até que me saí bem. Estava muito excitado. Uma sensação boa percorreu todo meu corpo, um misto de dever cumprido. Realmente estava excitado. Fui pro banheiro e tomei um banho. Me masturbei. Sai de lá limpo. Fui pra casa. Liguei para a minha amiga. Ela estava em casa. Convidei-a, juntamente com o carinha, para assistirmos um vídeo em casa mais tarde. Topou. Tudo estava a meu favor.
Tava sem fome, acho que muita adrenalina. Tomei uma cerveja e esperei.Campainha. Eram eles. Já tinha deixado tudo pronto pro grad finale. Fui abrir o portão. Lá estava ela, linda. Um abraço fortíssimo e um beijo. Me apresentou o otário. Apertamos as mãos. Olhei bem nos seus olhos. Entramos. Perguntou sobre minha namorada. Disse que estava pra chegar. Seguindo minha estratégia, chamei o fulano para mostrar-lhe uma coisa no porão e pedi para a minha amiga colocar uma música qualquer no som que ficava na sala. Fomos ao porão, pedi que ele pegasse algo embaixo, ele, sem questionamento nenhum, abaixou-se. Peguei a arma que tinha guardado, e fui pra cima dele, dei-lhe duas cacetadas na cabeça. Caiu. Dei um chute bem na boca. Coloquei a arma bem na nuca e puxei o gatilho. Falhou. Já estava nos planos. Puxei novamente. Dessa vez sem falhas. Adios amigo. Um barulho horrendo soou pelo porão. Saí com a arma na mão. Estava alucinado, gostaria de ver meu rosto nesse momento. Encontrei com ela já nas escadas. Estava branca; quando me viu com a arma sacou tudo. Muito rápido. Começou a chorar. Não conseguia pronunciar uma palavra legível. Não dei resposta nenhuma, apenas um tiro no peito. Caiu. Ainda agonizava quando fui ver. Confesso que fiquei com pena dela. Senti um remorso. Fui bem perto dela e a olhei, continuava maravilhosa. Então passou pela minha cabeça que nesse momento, seu último, e o meu também, pudéssemos compartilhar algo que sempre tive vontade. Tirei sua roupa. Era linda sem roupa, nunca a tinha visto nua, o máximo que a vi sem roupa foi na praia. O sangue escorria pelo seu corpo. Raspadinha. Lambi, lambi bastante e depois penetrei. Penetrei com muita força. Gozei. O tabu estava rompido. Não era mais minha musa. Apenas um corpo estendido ali no chão.Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Queria ver meu rosto. Um monstro assassino e estuprador. Nada disso o espelho me mostrava. Apenas meu singular rosto. Nada de alterações berrantes. Saí e liguei 190.

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