retratos: jonilson montalvão






Jenny Saville



Esses dias entrei em contato com a obra da artista plástica Inglesa, Jenny Saville. Ela pinta o chamado Grotesco. Algumas de suas obras são auto-retratos em posições denominadas esquisitas e esdrúxulas. Ela usa em suas pinturas muitos tons de cores. Me chamou a atenção uma obra em particular: Apoiada, óleo sobre tela de 1992. Nesta obra uma mulher com corpo extravagante, fora dos padrões ditos normais, está sentada, apoiada pelos pés numa espécie de encosto de cama. Ao primeiro olhar, temos uma figura repugnante, fora dos contornos, anormal.
Essa provocação da artista é uma maneira de nos atormentar e dizer-nos: olha, nada é tão perfeito assim. Uma maneira de nos alertar sobre as imposições torturantes ao corpo. Principalmente para as mulheres.

homem dos caranguejos

O cantor e compositor Alcides Neves volta com seu Tempo de Fratura

O cantor e compositor Alcides Neves volta com seu Tempo de Fratura e traz o inédito Dr. Louk’ Américas

Depois de longo intervalo de quase duas décadas, o artista, nascido no Ceará e criado na Paraíba, formado em medicina em Manaus e Rio de Janeiro, morando em São Paulo desde 1975, volta à cena paulistana para alegria dos fãs e dos amigos. E, claro, também para a satisfação daqueles que irão ouvi-lo pela primeira vez...
Alcides lançou, no Teatro Lira Paulistana, no bairro de Pinheiros, 2 LP´s independentes, Tempo de Fratura – 1980 e Destrambelhar ou não – 1983, discos, hoje, cotados como raros por colecionadores, no mercado internacional.
No próximo dia 30 de novembro o cantor e compositor marca, definitivamente, seu retorno à cena, a partir do show acústico de lançamento do seu ainda inédito CD Dr. Louk’ Américas, num evento multimídia, programado em conjunto com os amigos, a escritora Risomar Fasanaro e o produtor cultural, escritor e audiovisualista Cacá Mendes.
O amigo jornalista e escritor José Nêumanne Pinto, em seu depoimento na contracapa do CD Dr. Louk’Americas, fala sobre Alcides Neves: “...eu lhe garanto que estas canções aqui gravadas resultam de uma evolução linear de trabalho que me habituei a ouvir...Para mim, é importante que a arte também seja feita por resistentes. Principalmente nestes tempos de piratas e forró cearense que nada tem a ver com o Ceará do Alcides. Da mesma forma que a história da arte é escrita pela saga dos gênios e dos comerciantes, dos medíocres e dos contumazes, ela também se faz na teimosia de alguns criadores que não abrem mão de suas convicções, até mesmo de suas idiossincrasias, e seguem em frente... Alcides... é destes. Este caboclo velho traz para você aquele som dodecafônico... A dodecafonia do aboio e o baião arrevesado de Alcides têm origem mesmo naqueles tempos em que o ouvíamos ao violão no Teatro Minerva, em Brejo de Areia... Ele não emula, mas apenas segue o próprio, pessoal e velho caminho, a trilha antiga pela qual optou desde sempre. E é de gente teimosa como ele, repito, insisto, persisto, que a arte se faz longa mesmo em nossas vidas breves. Amém!”
No programa: o relançamento, também, do consagrado Tempo de Fratura (em CD e remasterizado), e noite de autógrafos da escritora Risomar Fasanaro com leitura de trechos do seu premiado romance (Eu: primeira Pessoa, singular, Prêmio Tereza Martin de Literatura – 93, categoria romance), e Cacá Mendes lançando o seu folheto “Quase 7” com a leitura de 2 poemas; ainda, exibição de fundo (como ruído imagético) do vídeo/poema/documentário Não São Anjos os que Comem com Deus, também do mesmo autor com o cineasta João Luiz de Brito Neto.

Local:
Centro Cineclubista de São Paulo

Rua Augusta, 1239 – conjuntos 13 e 14
Data: 30 de novembro de 2007 às 20 horas
Telefone: 11. 32143906
Entrada: R$ 15,00 (com direito a um CD ou livro)

sem título - jonilson

homens trabalhando - jonilson montalvão


O SOL - jonilson montalvão

o sol da tarde se põe,
através da minha janela,
a me olhar...
me olha e me diz:
pra fora, pra fora...
penso em que possibilidade
vou ir...
e em minha vida sem sentido.



autoretrato - jonilson montalvão

vermelhos - jonilson montalvão


CINECLUBE LUNETIM MÁGICO

Domingo, 11 de Novembro de 2007; 16 horas. O Corinthias, outrora um timão, luta desesperadamente para não ir para a segunda divisão do, também outrora grandioso, campeonato brasileiro. O adversário: Goiás. Nesse mesmo horário estou saindo de casa numa ansiedade tremenda; louco para ver o jogo que se inicia com ares de uma final. Mas só com ares mesmo, porque de final só tem o nome e a final mesmo será para um dos dois times que estão fadados a segundona em 2008.
Saio de casa rumo ao Centro Cultural Tendal da Lapa; logo mais estaremos, pela 3º vez, iniciando nossa mostra de curtas/médias independentes. Dessa vez projetaremos dois filmes média metragens, Carroceiros e Crianças, ambos documentários do diretor Alexandre Rathsam. No caminho até o Tendal, fico atento, qualquer rádio ou tv ligados no jogo, eu tento ver ou ouvir o resultado, afinal de contas é uma final, ou o final? Bem, é um jogo, é um jogo do Coringão e por mais que hoje o time se resuma em manchetes policiais, ainda assim, a torcida é fiel, é bota fidelidade nisso. Quem, por mais abstrato que seja um torcedor, gostaria de ver seu time na segundona?, penso que em sã consciência ninguém, tampouco eu, que nem posso me julgar tão fanático assim.
Chego ao Tendal por volta das 17 horas; a projeção estava marcada para às 18; temos o tempo ideal para montar o projetor e o som. Aproveito e pergunto o placar do jogo pro guarda da portaria: 1 a 1 e final do primeiro tempo. Ufa!, ainda respiro aliviado.
Depois de alguns contratempos, todos resolvidos, montamos as coisas no espaço do teatro e ainda aguardamos os possíveis públicos. Passados uns 10 minutos da hora programada, começamos as projeções dos filmes. O público?, bem o público foi, não o esperado, mas foram outras pessoas, digamos, diferentes. No final da projeção, lá pelas 20horas, depois de desmontar os aparelhos, fomos num bar ali perto bebemorar.
Mais uma vez agradecemos o apoio e a parceria do Centro Cultural Tendal da Lapa, seu coordenador Marcos Ozetti e seus funcionários; nossos amigos e parceiros, Zé Carlos, Eliana, Fábio, Danilo, Michele, Jonilson (eu) e a todos e todas que estiveram de corpo presente e mais aqueles outros tantos que de alguma forma sempre nos apoiam.
O jogo?, 1a1, com direito a um pênalti defendido pelo maior goleiro do mundo, Felipe, e ainda estamos na primeira divisão.
O Cineclube Lunetim Mágico acontece todo segundo domingo do mês no Tendal da Lapa.




sem título - jonilson montalvão

sem título - jonilson montalvão

um ato descrito - jonilson montalvão

Como um ato pode me reaver de situações quase imprevisíveis assim? Me pergunto enquanto visto a minha roupa de trabalho. Meu fone toca e em alguns minutos estou ouvindo ela reclamar novamente da falta de atenção aos filhos. Digo que no final de semana eu pego eles e tento me desvencilhar da situação, enquanto a voz dela penetra nos meus ouvidos como uma bomba destruindo toda minha paciência matinal.
Mulher é assim, se queremos ficar com os filhos elas não deixam, mas quando nos afastamos um pouco lá vem elas reclamando e cobrando a tal atenção. Nunca entendi isso muito bem, e não vai ser agora que isso acontecerá.
Terminei de me vestir e comi algo, como sempre correndo, e daqui a alguns segundos estava dando um bom dia forçado ao porteiro do prédio.
Dentro do carro tento ouvir alguma música que me reequilibre, mas esse tal (re)equilíbrio não me é muito chegado, ainda mais num trânsito alucinante como o dessa cidade. Uma buzina soa tão alto quanto a voz da minha ex. ao telefone. A comparação é inevitável. Ainda penso nas crianças um pouco mas logo passa, pois minha atenção nesse instante é voltada para um motoboy, que passa como um raio...eu jurava que por esse corredor não passaria nem um fio de naylon, mas ele conseguiu.
A música até que soa bem, tento me esticar dentro do automóvel, fazer uns alongamentos. O farol abre e, por alguns milésimos de segundos, eu não reparo, então tome outra buzinada...e mais uma e mais uma e agora já são um monte; acelero o carro e daqui a pouco estou parado novamente...risível.
9 horas. É o locutor que diz. Estou atrasado, penso em ligar para o escritório, até pego o celular, mas logo desisto. Queria era mesmo uma boa cama nesse momento. Dormir até a hora que eu desejasse e não me incomodar com porra nenhuma, mas essas escolhas que não são escolhas e acabam sendo assim mesmo...pelo menos a música é de boa qualidade.
9 e 15, o locutor diz novamente e eu ainda não consegui dirigir senão uns 3 metros. Acima de mim um zunido de helicóptero. Pego a garrafa com água e despejo pela boca. Deve aliviar um pouco.
Trânsito. Trânsito. A reportagem está nas ruas anunciando o congestionamento que segundo a CET já atinge uns 5.000 quilômetros. Recorde para esse ano que a qualquer momento pode ser quebrado.
Bom, penso, então não estou tão só assim. Pego o celular e ligo pro meu filho, o mais velho. Alô, ele diz numa voz sonâmbula. Oi filhão, tudo bem? Pai?, isso são horas!?, que merda, nem dormir a gente pode mais. Ah...desculpa, pensei que...Esquece pai, você sempre foi assim mesmo...Já pedi desculpa...Tá bom, mas faz um favor, me liga depois...
Desligou. Tá bom, te ligo depois filhodaputadocaralho.
Agora consigo movimentar o veículo por alguns metros, o suficiente para me acomodar num canto que, por algum desses milagres inexplicáveis, parecia estar à minha espera. Estaciono e desligo o carro e permaneço ali sentando. Olho minha agenda: reunião às 8:00, assinatura do novo contrato com a empresa “Destruidora de Vidas” às 9:00, mais uma reunião com o todo poderoso dono da “Propaganda e Vertigem” às 10:00, etc. etc. etc...nesse momento o celular toca, é da empresa. Olho lá para fora e só vejo a fumaça e o cinza escuro corroendo os pulmões e outras utopias. Minha cabeça está confusa, dolorida e arrebentada. Desligo o celular e fecho ele dentro do porta-malas; saio do carro, tranco a porta com as chaves dentro e um alivio estranho toma conta do meu corpo. Caminho pela avenida com uma sensação boa, daquelas que eu tinha quando era criança e brincava nas ruas sem compromisso.

A CIDADE - jonilson montalvão

Essa cidade me debilita e me reanima também. É sempre essa dualidade louca, essa transfiguração de um e de outro; excessivo e expressivo de um absurdo que só essas grandes metrópoles possuem.
Mas a porcaria de tudo são essas pessoas que nem respeitam a si mesmas e com isso não conseguem respeitar nada, nenhum tipo de vida, absolutamente nada nem, tampouco, o outro, seu semelhante. Para mim é difícil tudo isso; esses dias mesmo vi uma cena que me maltratou muito: um cara estava atravessando a pista, entre dois carros; o trânsito, como sempre, estava parado, era por volta de umas 4 da tarde. O cara aproveitou e foi atravessar ali, mas no momento em que ele estava passando, o outro, o motorista que estava no seu jipe, desses importados, acelerou propositadamente; uma acelerada de leve, por isso penso que foi de propósito, mas foi o suficiente para que o cara que estava atravessando se assustasse e o jipe encostasse a frente no corpo dele. O cara do jipe fez uma cara de “não tenho nada a ver com isso” e levantou uma das mãos como pedindo desculpas. Eu vi toda essa cena e isso me causou uma mal estar terrível. Fiquei pensando que filhodaputa, burguesão com seu jipinho importado, com seu mundinho, trancafiado na merda do seu carroquartel, do seu tanque de guerra urbana e foda-se os outros, os que circulam a pé por essa cidade, os que ainda tentam se manter intactos de toda essa porcaria que respinga pra todo lado.
Ainda fiquei um tempo ali parado, não me conformando com aquela situação, mas ao mesmo tempo sabendo da minha inutilidade, da minha inércia perante tudo.
A cidade e seus carrascos, em seus monstros tanques-de-guerra por um fio de tudo; o labirinto urbano torrencial e meticuloso jorrando intolerância, borrando a vida, as alegrias, a satisfação em andar por uma cidade onde o encontro de pessoas não signifique um choque bélico, um amontoado de empurra-empurra, mas sim em atos gentis, de simpatia.
A cidade somos todos nós e se essa São Paulo com seus milhões de vírus, como seus milhões de máquinas esfumaçantes, se essa São Paulo se permite a um gesto mais sensível por parte de todos, há ainda uma chance. Porém, parece que isso não está acontecendo, não consigo vislumbrar essas coisas; pego trem todos os dias e o que vejo é assustador. Mas, também, não sou tão pessimista assim, vejo atos, isolados sim, mas atos de extrema delicadeza de várias pessoas e por isso ainda tenho uma sensação boa quando ando pelos quatro quantos dessa metrópole.
O cotidiano da cidade ainda possui elementos gratificantes, daqueles que a gente olha e logo um sorriso se faz, um sorriso tão espontâneo que a gente fica eufórico e os sonhos voltam a emergirem lá do fundo do abismo.

mijar

fanzine irracional e emocional