Perfeição de espasmo

Me diz muito além
do muito e do além,
ficar anunciado.
A própria essência da utilização da metalinguagem poética
Crer na fragmentação da liberdade humana
Esta dissocia-se da real estranheza da inteligência.
Desdobrar em várias as personalidades,
como num rompimento com outras especificidades;
a especialidade das emoções projetada em nós como
uma divisão subliminar.
Assim vou tentando escrever
minhas substâncias emocionais e
intelectuais,
as duas vão sendo transformadas
na medida do possível.

QUALQUER SITUAÇÃO NÃO DISPONÍVEL

“Todas as coisas estão cheias de deuses” - TALES DE MILETO

A cada momento somos irreparável e irremediavelmente atingidos – como num bombardeio – por situações vexantes e danosas para uma grande maioria; tal possessão atormentante nada mais é do que uma imagem surreal tal qual descreveu Krishnamurti em uma de suas palestras pelo mundo afora. No entanto buscar uma base para discorrer sobre hipóteses [sobre essas manifestações] são lugar-comum para o homem; num eterno retorno, seguimos nossa intuição como se fossemos uns meros devaneios singulares. A cada possibilidade filosófica, surge na nossa meta transtornos, harmonias, angústias, felicidades, sonhos...
Tão provável seria a transformação da existência via ridículas particularidades emocionais. Não, não seria muito atraente para a nossa mente, tão propensa a expansão. Na medida que vamos nos tornando aberrações - muito normal isso hoje em dia - não só desmaterializamos como mutações, mas também sofremos as propensas reclusão da harmonia. Nossa matéria nunca é igual, na medida que ficamos mais velhos mudanças tomam nosso “eu” como uma parte abstrata da mente. Nada permanece indiferente em nós, mesmo naquilo que pensamos não estar ligado. Esse estranhamento em relação ao mundo, algumas coisas não são mais o que eram - certas ou erradas – estamos explorando o desconhecido, o irreal, a metafísica...
Passamos mais de um terço de nossas vidas adormecidos, numa determinada realidade [questões subjetivas] – nossos sonhos (não) são reais, mas qual atrocidade nos devorará agora?

O CAMINHO DAS PEDRAS

Sempre que paramos, raciocinamos e nos perguntamos se algo do que estamos realizando realmente vale a pena ser realizado, surgi uma das dúvidas mais cruéis da humanidade. Mas como outras tantas situações da nossa vida, tal pergunta nem sempre é respondida, apenas idealizamos essa resposta e seguimos; por vezes até somos tentados a eliminar esse pensamento, porém a tentação de auto-questionamento nem sempre prevalece.Temos uma capacidade extraordinária para exercer nosso talento – em todos os sentidos – mas isso vai sendo podado em alguns de nós no decorrer de nossa existência. O entusiasmo e a criatividade são naturais de qualquer criança (sadia); isso implica num processo (natural) de graduação continua de alegria e contentamento. Nossa habilidade vai desvanecendo no momento que vamos nos tornando adulto e isso graças a pressões das famílias e, também, de uma sociedade (aqui incluso escolas e professores) sem conceitos e totalmente ignorantes dessa criatividade humana. O psicólogo e anarquista Roberto Freire faz uma avaliação bem polêmica a esse respeito, segundo ele, o amor que uma mãe [acha que] tem por seu filho é um dos piores amores possíveis, ele chama esse amor de amor autoritário. É um tipo de amor dominador, sem deixar brechas para o outro manifestar suas criatividades e necessidades. Concordo com ele. Sei que será difícil convencer uma mãe disso, mas essa mesma mãe, biológicamente, só está preparada para guardar a sobrevivência de seus rebanhos, isso é totalmente irracional. Nesse tempos ditos modernos, alguns conceitos estão sendo jogados por água a baixo; esse discussão torna-se subjetiva num determinado ponto de raciocínio. Para alguns a teoria da modernidade tende a tornar a vida mais completa, outros vêem nessa modernidade um aniquilamento total das premissas mais interessantes para o ser humano. Mas, por outro lado, o auto-conhecimento nos leva a um âmbito exclusivo. Tomamos essa clareza do inconsciente e distribuímos em ações conscientes (JUNG), dando força às nossas formações e tomamos decisões amplas. Esse auto-conhecimento nos leva a uma melhoria nas relações com o outro; nossas vidas melhoram e isso é prazível para a relação cooperativa dentro da sociedade.

Oblíquo

Algo de sensacional poderia estar(ou está?)
acontecendo agora mesmo num determinado ponto qualquer do universo! Ponto inicial de uma controvérsia inigualável de subjetividades. A questão do comportamento oblíquo do ser nos transporta para ínterins tão desgastantes, capazes de fazer com que um determinado assunto qualquer tome vias intermináveis e deságüe numa imensidão de palavras repetitivas sem sentido nenhum.
Gostaria de não poder contar com o senso comum de pessoas comuns; não que isso me seja interessante, tampouco sou uma pessoa direta com as palavras, para ser mais exato sou prolixo.
Mas quem já não se viu assim? A prolixidade é tão sublime, de repente nos vemos falando sobre certos assuntos que achávamos que não dominávamos e isso é tão bom nos sentimos capazes, quer dizer, somos capazes, mas no decorrer de nossas vidas somos bombardeados por tanto negativismo que ficamos amorfos a qualquer atitude.
O poeta Fernando Pessoa, um dos mas geniosos de todos os tempos, era, na minha modesta opinião, um grande prolixo, brincando sempre com as palavras, fazendo delas seu meio de expressão mais sagaz e ardil. Estou começando – peço desculpa pela demora – a entender esse poeta; seus heterônimos me fascinam, gostaria que todos tivessem acesso aos poemas filosóficos de Pessoa, a leitura desses textos criariam um ponto de interrogação tão grande, criaria um sentido mais amplo na simples vida que o ser-humano carrega pensando que é o dono das coisas.
Sentir a existência das pequenas coisas, das ambigüidades das vida.

inaptidão

Nessa sexta feira –
(que bem poderia ser outro dia) –
a mercê da inaptidão
contra a produção.
A mazela de um universoque também sou parteque parte de mim...
buscando e trilhando e caminhandosa
boto os afazeres e os torno
migalhas na paisagem descomunal da periferia.

minha passagem

Durante um certo tempo de minha passagem por esse planeta fui me enfiando por uns abismos sem destino ou que pelo menos eu assim determinei. De passagem por algo irreal deparava-me com acontecimentos supostos ou de origem (na minha monotonia rudimentar) sinistras. Fui sendo acarretado por dogmas improváveis que faziam de mim apenas nada. Era nada que tinha entre mim e os restos. Considerando que tinha sido letrado pela educação monoteísta de uma época tão sedimentada pela base estrutural mais simplória e que a cada período se distribuía algo sempiterno. Mas não era bem assim como vocês pensam. Agouros também ruíam de dentro da mais assombrada vertente dum modelo de mecanismo sempre enferrujado e sempre postulante.Eu nem sequer imaginava esta estadia. Suborbicular era como minha mente trabalhava a questão da vazão e do medo. Através dos olhos (baixos) tinha a minha realidade remodelada pela essência do medo, a mesma essência castradora que suponhamos ter terminado.Todavia não abaixei minha cabeça e tampouco me reduzi nesse ímpeto que é tão meu e às vezes nem me é normal. Só e cada vez mais só segui por essa trilha do desconhecido em busca de outros paralelos rudes, como eu, como todos. Esses risos me são conhecidos. Todos caçoam de todos e seguimos a fomentação da realeza que não é popular e nunca foi. Não quero mais estar à margem, prefiro morrer. Morri.

Realismo Fantástico num Submundo Irreal

Depois de diversas desventuras vividas naquele lugarejo longínquo, e revoltados com tantos descasos, alguns viventes do submundo, agrupados e conscientes, se rebelam contra a enigmática entidade denominada JOFA. Mas antes de continuarmos nosso relato histórico vamos conhecer essa entidade espectral; como sabemos, as entidades não são criadas assim, de uma hora para outra, ah não, elas são preparadas e também vão se preparando para tal metamorfose e com o decorrer do tempo ficam mais fortes, dependendo do lugar onde estão e da benção que recebem, elas podem até mesmo se transformarem em entidades surrealistas, daquelas que nem precisam aparecer mais, só o nome já é o suficiente para causar furor.JOFA era um destes casos, aliás, podemos dizer que JOFA não é uma entidade comum, não senhores, ela é uma dessas especiais, criada a partir da junção de alguns seres mais vagabundos (no sentido péssimo da palavra) e hipócritas que já apareceram no submundo. No começo, antes de ser essa entidade, JOFA que nem mesmo tinha esse nome, pousava de líder, freqüentava lugares ditos subversivos, “lutava” por algumas causas, óbvio que tudo isso já era visando uma posição de destaque no futuro, e não menos se tornar a tal entidade que hoje assombra o submundo, até porque, como sabemos, tudo nessa vida tem um preço, e JOFA sabia muito bem disso. Bom, voltando para nossa entidade e o lugar onde esta reinava, podemos dizer que alguns súditos de JOFA hoje – e estes não eram poucos - não o eram no passado, mas como tudo muda, esses súditos também tinham o direito a tal mudança, afinal de contas fazemos parte de um contexto muito maior, e quem somos nós para discutir tal contexto. JOFA já estava um bom tempo reinando, já tinha “conquistado” vários súditos, e tais conquistas vinham de várias maneiras, sempre bem humorado e solicito JOFA agradava a quase todos, só os mais honestos e sinceros era o que nossa entidade não conquistara. Esse era o seu maior dilema, mas usando métodos, digamos assim, “provincianos” tentava calar esses que não se ajoelhavam perante sua imponência.De certa forma, o caudilhismo Jofiano já estava tomando proporções absurdas, alguns contestadores já não tinham muita paciência para tal coronelismo e tentavam quebrar essa ordem estabelecida, e olha que essa ordem era em todas as partes, desde seu reino, onde JOFA permanecia intocável, passando por seus reinos-filiais, até mesmo, imaginem vocês, na mais pura das casas JOFA tinha lá seu agente. Além de tudo isso, ele também contava com a alienação de alguns “viventes” do submundo, esses eram o maior trunfo de JOFA, porque esses “viventes” em nada acrescentavam, apenas eram usados para como forma de alimentos, podemos dizer que JOFA também era uma espécie de vampiro, sugando seus súditos e não súditos.De qualquer maneira nossa entidade se estabelecia cada vez com mais força, impondo seus pensamentos em toda casta do submundo. Gozando de certos privilégios, seus súditos se acalentavam do poder suposto que acreditavam ter. Mas, uma vez descrente de que tudo tem um fim, e como seu poder crescia paralelamente com o ódio que os não súditos mantinham para com JOFA e sua trupe de ordinários, certo dia eis que todos os descontentes se juntaram, mesmo que isso tenha custado a certos egos algo não muito - chamaremos assim - agradável. Deixando de lado todas as diferenças, os viventes preocupados com o submundo, - abriremos aqui um pequeno parágrafo para explicar (ou pelo menos tentar) o porque dessa preocupação de alguns viventes com o submundo:A maioria dos viventes rebeldes mantinham um nível cultural acima da média daqueles que viviam embaixo dos culhões de JOFA, apesar de tudo contra, esses viventes tentavam se manter dignos, mesmo sem contar com o apoio de JOFA; aliás, JOFA só dava seus créditos como entidade possuidora do submundo para seus súditos, apesar dos viventes rebeldes terem muito mais capacidade intelectual do que a maioria dos súditos, estes não eram consultados nem chamados para participarem de nenhuma obra vinda do reino da entidade. Vendo tudo de errado que estava sendo feito no reino, só sobrava para os rebeldes a organização visando por um fim no reinado de JOFA. Mas todos sabemos que quebrar conceitos nunca foi fácil, a tarefa dos rebeldes era uma missão muito difícil, eles teriam que juntar todas as forças e buscarem toda a sabedoria em prol dessa caminhada que estava para começar.Sabendo de toda essa trama para depo-lo do reino ou pelo menos tentar anular seu poder, JOFA se preparava, sempre na base do “é dando que se recebe”, a entidade dominante tinha lá seu grupo e sua agenda continha nomes especiais, em alguns casos uma simples ligação e pronto, questão resolvida.Por outro lado, os rebeldes também se organizavam, mesmo sem esse poderio todo, eles iam em busca de soluções mais adequadas à suas realidades; depois de alguns encontros e muito bate-boca (imprescindível para alcançar o objetivo), todos já sabiam como enfrentariam a entidade. Prudente como ele só - alcançar o poder não é tão fácil assim, mante-lo tão pouco – JOFA havia mandando um agente seu infiltrar-se na organização rebelde e todos nós já sabemos como isso funciona, é mais ou menos igual a alguns filmes: o policial (ou outro ser com essas características) se encaixa na dita quadrilha, fica amigo do grupo e, depois – num ato heróico – prende todos. Pois esse mesmo fato também se deu no submundo. Só que a “turma” jofiana não contava com algumas peripécias dos rebeldes, fantasticamente munidos com a sabedoria popular, determinados com a benção da junção comunitária, os revoltosos do submundo descobriram logo de início quem era o tal “judas”; ora senhores, todos temos um ser traidor, quem já não passou por situação semelhante, então...Não foi tão difícil assim descobrir quem era o traidor, pois, sem contar o óbvio, “calabares” já dão a deixa. Agora, vejam vocês, sinto muito o término desse jeito, mas, como não poderia transpor essas questões, tudo nessa vida tem a sua “moral”, ficamos (tentando) analisar a desse simplório texto.

Tula

Tula. Tula. Tula.

Só esse nome me vem ao pensamento agora. Essa garota...engraçado como a conheci. Nunca mais esqueço. Estava dançando no antigo Blance. Tava rolando Funkadelic, One Nation. De repente percebo aquele corpo se contorcendo. Começo olhando os quadris. Largos, amplos. Meus olhos vão subindo. Vejo seus seios: pequenos, os bicos sobressaltam a blusinha colada. Fico um instante olhando. Linda. Dentes de leite. Boca carnuda. Lábios carmim. Nariz achatado, olhos amendoados. Cabelos crespos. Muitos. Não esqueço mais. Que maravilha. Ela se mexia toda. Tive a impressão de que nunca o Funkadelic tinha tocado tão bem. Ah se o George Clinton a conhecesse. Sei não, acho que o cara teria pirado, assim como eu estava naquele momento. Fui mais para perto dela. Dançamos um pouco juntos e daqui a um tempo estávamos nos enroscando que nem serpentes. A música já era outra. Como é seu nome?, grito no seu ouvido esquerdo. Tula. Como? Tuulaaa. Tuta? Não, Tu-la. Ah, Tula. O meu é Clóvis, você é maravilhosa Tula. Você é que é...confesso que tremi nessa hora. De repente já tou grudado nos seus beiços carnudos. Uau!! Ela berra. Você é carnívoro?, e solta um sorriso sensacional mostrando aqueles dentes magistrais. Sou um lobo meu amor, falo instigante. Eu adoro lobos. Tremi novamente. Ficamos um tempo ali se engolindo. Minha boca na dela e mãos por toda extensão dos corpos. Quase viramos um só. Vamos pra lá, propus. Vamos. Fomos pro banheiro. Já entramos grudados. Ela abaixou minhas calças. Meu pau saltou. Ela pegava e apertava a cabeça com muita força. Noossaaa!! Levantei sua blusa e fui mordendo aqueles biquinhos sensacionais. Que linda, pensava enquanto mordiscava seus peitinhos. Arranquei sua calça juntamente com a calcinha e enfiei meu dedo na sua buceta quente e cabeluda. Ela gemia muito. Num ínfimo de segundo já estava dentro dela com violência. Foi uma foda quentíssima. Ela, de quatro, e eu a penetrando freneticamente. Parecia que íamos sucumbir naquele estado de prazer maravilhoso. Gozei dentro, nem pensei em nada. Minha cabeça era só ela. Humm, Clóvis, você é ótimo...ela murmurou entre gemendo e rosnando. Tudo nela era divino. Vestimos nossas roupas. Estava muito suado. Saímos da danceteria e fomos direto pra casa dela. Ali perto. Uns 10 minutos de táxi. Já no banco do carro nos grudamos novamente. A boca dela era uma coisa inexplicável. Que mulher! Eu não conseguia acreditar naquilo. Chegamos. 8º andar. No elevador mais beijos. Que doideira. Meu pau latejava. A mão dela sempre ali, apertando, mexendo. Vai e vem. Quando abriu a porta, já caímos no sofá. Não deu tempo de mais nada. Em segundos já estavámos pelados. Ela por cima de mim, se mexendo em forma de 8. Foi delirante. Como era gostosa. Gozei novamente. Fomos pro banheiro. Esfrega esfrega alucinado. Embaixo do chuveiro começo a chupa-la abruptamente. Minha língua trabalhando bem, sem parar. Peço pra ela ficar de quatro. Que visão esplendida. Aquele bunda carnuda. Aquele cuzinho piscando pra mim, como que pedindo beijos. Fui sem pestanejar. Enfiei a língua naquele buraco negro maravilhoso. Ela não acreditou. Gemia alto. Eu passava a língua no buraquinho e a safada gemia. Rebolava. Uivava. Lambia e penetrava com meu dedo. Aí ela pirou de vez. Gritava agora. Mete no cu vai. Era uma ordem e eu submisso obedeci. Peguei um de seus cremes de cabelo e passei no seu cuzinho, melequei bem, cuspi no pau duas vezes e pus pra dentro. Entrou deslizando gostosamente. Ela tremeu. Senti suas pernas balançarem. Era um jogo frenético. O chuveiro jorrando água em nós. Eu não parava. Deliciosa. Ela berrava. Eu estava louco. Ela me pediu que gozasse dentro. Como já disse estava submisso à ela. Obedeci mais uma vez. Jorrei.- Tula você é uma safada.- Cê acha? Perguntava fazendo beicinho.

Clóvis, pega uma cerveja pra nós vai meu amor.- Pra você eu faço tudo. Nesse dia transamos muito. A todo momento. Dormíamos um pouco, acordávamos e já estavámos grudado. Foi assim nosso domingo de glória.Combinamos que íamos nos ver na quarta. Os dois dias que se sucederam meu pensamento era só naquela mulher. Tula. Não sabia muita coisa sobre ela. Nosso primeiro dia não conversamos muito. Foi sexo puro. Nesses dois dias me masturbei pensando nela. Sua pele negra me excitava muito. Adoro peles escuras. - Alô.- Oi gato. Adivinha quem é?- Preciso mesmo?- Tá livre hoje para nossas brincadeirinhas?- Então se prepara.- Vem logo vem, meu lobão.- Daqui a pouco estarei por aí?- Beijo- Beijão. Caralho. Hoje vai ser foda. Vou direto pro chuveiro e tomo um banho. Lavo bem o pau. Cuido bem dele, meu companheiro inseparável.Toco a campainha. Sobe. Subo. A porta já está semi aberta. Entro. Ela está peladinha. Eu quase caio de boca naquela buceta, mais os lábios dela já mordem os meus violentamente. Não deu nem pra dizer um oi. Melhor recepção da minha vida. Nos pegamos. Dessa vez começamos com um meia-nove. Sua buceta cabeluda deu um certo trabalho, mas nada assim tão complicado. Achei seu clitóris. Pequeno e Vermelho. Lambi, mordi...minha língua é ligeira, percorre tudo. Penetra, volta, sobe, desce. Ela enlouquece. Eu também. Ela me chupa desesperadamente. Parece que meu pau é o último pau do mundo, nunca mais vai ter outro. Mordisca a cabeça. Uuuuuu!! Puta que pariu. Mudamos de posição. Jogo suas pernas pro alto e me apoio em seus quadris. Penetro ela, dessa vez mais devagar. Minha boca alcança seus peitos. Ela me morde e arranha. Viro ela. Fico por baixo. Ela me engole. Fogo! Estamos pegando fogo. Meu pau está lambuzado com seu creme vaginal. Ela começa aquele 8, sobe e desce devagarinho. Sua bunda cobre minha pélvis toda. O corpo negro. Uma deusa africana. Ébano. Exuberante. Ficamos assim um bom tempo. Gozamos.- Estou esgotado.- Eu também.Tombamos de lado.- Tá com fome?, me pergunta com uma carinha protetora. As mulheres têm dessa né? Acho que é o instinto maternal. Tula tinha essa cara. Seria uma boa mãe.- Estou.- Pera aí. Vou fazer uma coisinha pra nós. Sai. Olho seu caminhar. Banto. Pergunto se sabe quanto tem de quadris. Acho que uns 90 e pouco, responde. Eu acho que passa de 100, brinco. Será? Acho que sim. Gosta de chá? Gosto, chá mate. Gelado? Rumrum. Bolo? De que? Banana? Hummm.Volta com uma bandeja de plástico com 2 copos e 2 pedaços de bolo.- Não adocei não, tá?- Sem problemas. Não como muito açúcar.- Eu também não. Minha família é diabética.- É? Todo mundo?- Quase todos. Minha mãe. Minha irmã. Meu sobrinho.- Noossa! Que merda hein.- Mas assim é melhor. É uma forma forçosa de evitar, não engordamos. Solta aquele sorriso devastador.- Tudo tem seu lado bom né? Tento mostrar meu otimismo contagiante.O bolo estava uma delícia. Pergunto se foi ela quem fez. Diz que não. Compra numa padaria ali perto.

Tomamos um banho juntos. Ela começa a me esfregar.- Vou te dar um banho. - Eu vou adorar.Pegava o sabonete e passava pelas minhas costas. Na barriga, nas bolas, no pau. Limpava a cabeça com uma perfeição exemplar. Pedi pra ela bater uma punheta. Passou o sabonete na mão e começou. Devagar, ia e vinha. Parava na cabeça e apalpava. Voltava. Daqui a pouco tava mais rápida. Que mão essa mina tem. Ah! Quando ela sentiu que eu ia gozar, a filadaputa parou.- Que foi, logo agora que ia...- Por isso mesmo. Quero dentro de mim.Fomos pro sofá. Ela se ajoelhou no sofá com a bunda virada pra mim. Coloquei meu pau dentro dela de uma só vez. Ficamos num vai e vem por uns 10 minutos. Depois fomos de lado. Aí gozei. Tudo dentro. Dessa vez fiquei preocupado. Mas na hora não toquei no assunto. Ficamos grudado e adormecemos. Já era quase 1 da manhã quando fui embora. Ela ainda insistiu para que eu ficasse, mas tinha que resolver algumas coisas. Não daria. Fui pra casa.No outro dia ligo pra ela do meu trampo.- Oi.- Clóviiis! Oi meu amor, vem pra cá hoje, vem?Como resistir a um pedido desses.- Vou sim. To com saudades.Estava apaixonado pela safada. Mas estava preocupado com aquela transa. Fizemos sem camisinha. Gozei dentro. Não queria nem pensar nisso. Liguei pro Jonilson. Amigo de longa data. Tinha que contar pra alguém sobre essa mulher.- E aí mano.- Fala Clóvis. Legal?- Puta que pariu. To comendo uma neguinha divina. Cê vai conhece-la. Ma-ra-vi-lho-sa- É. Gostosa?- Sensacional. Conheci ontem de ontem no Blance. Só penso nela desde então.Jonilson, assim como eu gostava de mulheres de pele escura.- De onde ela é?- Daqui de perto mesmo. To indo pra lá.- Passa aqui em casa antes. Peguei um baseado no Zamba.- Ô. Legal. Daqui a pouco to aí.- Falô.- Falô. Peguei o busão e fui pro Jonilson.- E aí?- Tudo bom cara? Senta aí. Quer cerveja?- Quero, cadê o baseado?- Aqui.- Tem Funkadelic aí?- Quer ouvir?- Quero. One Nation.- Pera aí.- É que Sábado tava rolando esse som quando eu vi a Tula.- Tula?- É caralho, o nome dela é esse.- Nome?, pensei que fosse apelido.- Ela me falou que era nome.- Pode ser, e aí?- Véio. É muito linda. Perfeita.- Como ela é?- Preta, do dedão dos pés até os cabelos. Boca grande com lábios carnudos. Gostosíssima. Esculpida.- O fumo já tá enrolado.Jonilson acende. Dá uma tragada forte. Tossi um pouco. Dá outra. Comenta alguma coisa e me passa o baseado. Na palha. Só fumamos assim. Puxo, seguro um pouco e solto a fumaça. Dou um gole na breja. Ah, isso é bom demais!Jonilson me mostra uma banda que toca música do Funkadelic, só que em versão instrumental. Clinton Administration.- Caralho. Que legal isso né?- Muito bom né cara?- Empresta pra mim, vou levar pra ouvir na Tula.- Beleza.Passo o baseado pra ele. E assim fomos fumando aquela maconha do Zamba ouvindo Clinton Administration. - Ae, to saindo fora.- Então Clóvis, qué levar o livro agora?- Depois eu pego, tá limpo?- Tudo bemTo louco pra ler esse livro, Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século 20. Mas hoje eu quero é sexo com aquela deusa.Pego o ônibus e em 15 minutos to no sofá da Tula, sem roupa, saboreando seu cuzinho. Dessa vez uso camisinha. Também durmo por lá. Acordo cedo faço uma vitamina de banana com leite. Tomo uma ducha. Visto minhas roupas. Vou até o quarto e dou um beijo naquela maravilha.- Volta hoje meu amor?- Talvez. Respondo usando um certo charme. Mas já tava muito óbvio que eu voltaria. Saio. Puta que pariu. To fisgado. Essa mina me capturou. Trabalho até as 5 só pensando nela. Depois passo na casa do Jonilson para pegar o livro.- Entra aí Clóvis. Essa é a Cristina.- Prazer, Clóvis.- Oi. Cristina. Tudo bem?- Então mano, vim só pegar o livro.- Vamos lá, tá no outro quartoPergunto quem é a mina.- Linda né?- E aí já comeu?- Ainda não, mas não vai demorar muito não.- Então beleza. To indo. Tiau Cristina.- Tiau Clóvis.Cristina era uma mestiça. Muito bonita. Narizinho arrebitado.Vou pra casa. No meio do caminho troco de direção. O porteiro do prédio já me conhece. Olá. Boa noite. Bato na porta da Tula. Demora um pouco para abrir. Toco a campainha, nada. Chamo pelo nome. Tuulaa. Ouço uma voz vindo lá de dentro. Pera aí. Abre logo aqui. To indo meu amor. Há algo de errado em sua voz, tá mais nasal. Esmurro a porta. Abre ofegante. Cabelos revoltos.- Oi...que pressa hein...Não deixo ela terminar a frase. Entro no apartamento com tudo.- Tem alguém aí com você né? Porque a demora em abrir a merda da porta? Veio toda desarrumada. Porra Tula, se tiver alguém...- Relaxa Clóvis. Tava dormindo porra. Senta aí vai. Que é isso meu.Levanto e percorro a casa. Que merda. Estou com ciúmes dessa fila da puta. Penso em olhar no guarda-roupas. Porra. Coisa de filme. Não, isso não. Não vou cair nessa. Vai que eu abro a porra da porta e cai um cara lá de dentro.- Tula. Grito.- Que é.- Tem alguém nessa porra de guarda-roupa?- Caralho. Tá louco, seu idiota. Abre essa merda então.Vem voando em minha direção. Me empurra pro lado e abre a porta. Meu coração dispara. Quase tenho um enfarto. Nada.- Olha aqui merda. Olha.Viro a cara, mas com os olhos dentro do guarda-roupa.- Olha aqui, cuzão.- Tá bom. Desculpe. To viajando. Você demorou muito pra abrir a porta. Sei lá. Desculpa. Fiquei enciumado.- Porra Clóvis. Você é um cara todo com idéia liberal, todo moderninho e fica nessa de ciúmes. Porra meu...- Já pedi desculpas meu.- To mal com você. Vai embora vai.- Tula, meu amor, desculpa vai, é sério.- Não Clóvis. Não me toca não. To com raiva. Puta fuzuê sem motivo nenhum, 5 dias que a gente se conhece e você já arma essa zona toda. Pra mim não dá não cara. Sou uma mulher livre. Não gosto de macho me dominando não. Minha mãe me criou para ser livre. Blá, blá, blá, blá....Ela falou interminavelmente. Fiquei ali ouvindo seu discurso inflamado e terrível. Como falava. Ainda tentei argumentar que tava com ciúmes, que eu não era possessivo e tudo mais. Não adiantou nada. - Tudo bem Tula. To indo. Só que se eu sair. Você não vai mais me ver.- Foda-se, não quero ninguém me controlando.- Foda-se você.- Escuta aqui Clóvis, essa é a minha casa, beleza? Cai fora agora.Veio me empurrando com uma fúria que não combinava com ela. Me defendi. Aí veio a unhada. Na cara. Sangue. Me desesperei. Fiquei cego. Fechei a mão e acertei sua cara com um soco. Bem na boca. Ela foi para trás. Passei a mão no rosto, tava sangrando muito. Ela se levantou e, gritando e me xingando, se jogou pra cima de mim. Empurrei ela, caiu no chão.- Pára com isso caralho. - Seu corno filho da puta. Cuzão. Viado.- Pára porra.- Sai daqui seu bosta. Sai agora.Saí. O zelador ficou me olhando. Passei num bar e peguei umas folhas de guardanapo. Apalpei contra os arranhões. Limpei o sangue. O dono do bar me observava. Que é seu filadaputa, pensei olhando pra ele. Fiz sinal de positivo. Ele não fez nada, só me olhava.Peguei o busão, fui sentar no fundo. Último banco. Fiquei pensando em como chegamos nessa situação. Do ardor da paixão intensa e acalorada pro ardor da violência, verbal e física. Queria voltar lá e pedir perdão e abraça-la e beija-la. Mas meu orgulho imbecil não me permitiria isso.Desci. Já em casa me olho no espelho. Relembro nossas transas. Meu pau endurece. Como eu vou viver sem essa mulher. Penso em ligar pra ela. Vou perto do fone. Disco. Toca umas 5 vezes. Ela atende. Alô. Uma voz triste e abafada. Não digo nada. Ela ainda fica perguntando quem é. Desliguei.Tomo um banho. Passo o sabonete no rosto. Arde muito. Parece que lutei contra o Wolverine. Que merda. Enrolo um baseado e ponho o cd do Clinton Administration. One Nation instrumental.

Antítese

Quando abri os olhos vi que estava num quarto. Ainda estava tonto. A noite passada...levantei e fui até o banheiro. Minha cabeça arrebentando de tanta dor. Que sonho horrível. Olhei-me no espelho. Cara destroçada, reflexo de uma noite mal dormida. Não me lembrava de quase nada. Tinha saído com alguns amigos. Fomos numa festa. Enchi a cara de vinho e outros líqüidos. A certa altura alguém chegou com um prato cheio de carreira de cocaína. Quando acabava, aparecia outro...
E esse sonho que tive: estava nu, correndo por uma estrada. Ao mesmo tempo, paralelamente, também aparecia uma garota nua. Às vezes eu conhecia seu rosto, outras vezes não; ela se tornava uma total desconhecida.
Abro o chuveiro e entro embaixo. Deixo a água um tempo fria, para tentar despertar. Agora me lembro. Tinha uma garota cheirando com a gente. Era a mesma do meu sonho. Que estranho! Troco a chave do chuveiro, de fria para morna. Quando eu estava correndo, no sonho...era a mesma garota. Sim! Era ela mesma...ela corria comigo no sonho. Seu rosto agora me é perfeito. Na festa ela entrou em coma. Desmaio. Tentamos reanima-la. Forçamos seu peito com as mãos fechadas. Agora me lembro. Abrimos sua blusa. Estava sem sutiã. Fiquei olhando aqueles peitos. Eram maravilhosos. Algumas pessoas foram embora da festa, talvez com medo. Eu fiquei, juntamente com mais 2 amigos, ali no quarto. Já estávamos chapados. Sim. Agora me lembro. Sim. Tiramos a roupa da garota. Da sua boca saia uma espuma. Limpamos. Não estava morta, respirava. Sentimos sua respiração.
Meu nariz está escorrendo...tinha muita cocaína. Só estávamos nós 4. Eu, dois amigos e a garota ali deitada no chão do quarto.. minha mente está confusa...mas no meu sonho era só eu e ela, correndo nus. Ela era linda. Eu me sentia bem em estar junto dela. Seu rosto...agora me lembro...seu rosto.
Saio do chuveiro. Esse banho me fez bem. Sinto-me recuperado. Me enxugo e visto uma roupa que está em cima da cadeira. Não é a mesma roupa que eu usava na festa. Reparo melhor no interior da casa. Engraçado, agora vejo que não conheço essa casa. Minha mente está confusa, corro pro quarto. Nada. Essa casa não é a minha casa! Onde estou??
O sonho! Ela estava correndo em outra direção. Eu estava correndo atrás dela. É isso. Agora lembro-me claramente. Eu corria atrás dela. Eu chamava seu nome...pedia para ela parar. Dizia que estava tudo bem; nós...eu...não iria lhe acontecer nada. Mas ela estava desesperada. Foi então que...mas essa casa não é a minha. Eu não sei de quem é essa casa. Eu não sei onde estou.
Tento sair. Porta trancada. Chaves? Desespero. A cama...o quarto...tem alguém lá...mas eu já olhei...volto pro quarto. Desespero! Meus atos...minhas ações...agora, como uma febre que nos atormenta e causa-nos devaneio, vejo um amontoado na cama...é um corpo...esse corpo...puxo o cobertor...é ela! É a garota da festa...do meu sonho.
Essa realidade não é a minha. Inexisto. Sou e estou atemporal; que tempo é esse? Solto...irredutível...será tão flexível assim essa visão que tenho agora? Minha realidade tão subjetiva assim? A apreensão dos sentidos...desacordo...a inevitável verdade subjetiva. Não estou acordado para essa antítese.

Adão

Inescrupuloso.
Assim eu auto defino-me. Não reclamo de nada. Tive algumas oportunidades na vida. Abracei aquela que mais me excitava: o crime. Até meus 14 anos convivi com prostitutas. Pessoas que faziam da sobrevivência sua luta constante. Vivendo à margem e numa corda bamba. No fio da navalha cresci. Todas as coisas se confundiam na minha vida. Sem salvação. Minha alma já estava condenada. Roguei à Jesus Cristo, nosso Senhor e saí.
Aquele era mais um de tantos assaltos; para mim não passava disso. Tudo na minha vida tinha sido assim: fugaz, momentâneo. E aquele assalto não seria diferente. Tudo arranjado. Rendemos o porteiro, que ficava numa cabine na entrada da empresa. Pobre coitado. Fechado numa minúscula redoma. Sempre defendendo interesses que não lhe dizia absolutamente nada. Entramos na empresa. Roubamos as máquinas e saímos. Muito fácil. O próprio sócio tinha nos passado toda a idéia da situação. Fácil demais.
Enquanto espero o horário determinado para outro roubo escrevo minhas memórias numa agenda. Meus “anotamentos”. Gosto dessa palavra, prefiro ela à anotações. Sem fundamento, vazia. Escrevo e rabisco tudo que o cérebro produz. Sem dar importância a ordem ou a gramática. Aprendi a ler e escrever no próprio puteiro. Minha mãe trabalhava nesse puteiro. Era uma prostituta. Sempre aqueles homens roçando nela, beijando seu pescoço. Passando a mão na sua bunda. Eu a odiava por isso. Odiava aquele lugar. Só uma daquelas mulheres me tratava bem. Cindy. Lembro quando a vi pela primeira vez, eu deveria ter uns 7 ou 8 anos. Ela uns 18. Linda. Exuberante. Morena, cabelos pretos e longos. Na minha infância inocente eu a admirava como uma mulher, um ser humano. Ainda não tinha olhos para seu belo corpo. Cindy me ensinou a ler e escrever. Era uma mulher culta. Gostava de ler; lia de tudo: literatura, filosofia, poesias. Quando Cindy chegou por lá eu não sabia ler nada. Ela foi me alfabetizando. Seu método era bem simples, mas eficiente. Ela me falava que alfabetizar as pessoas não era difícil. Citava um pedagogo chamado Paulo Freire. Ela me dizia que ele tinha revolucionado a educação através do livro Pedagogia do Oprimido. Que em outros países era muito respeitado, mas aqui no Brasil quase ninguém utilizava seu método. Se eu pudesse escolher trocaria minha mãe por aquela mulher.
Minha vida, até os 14 anos, passou nesse puteiro. Cindy me trazendo livros. Me mostrando um monte de novidades. Eu a adorava. Contemplava sua sabedoria. Fora daquele puteiro eu estava começando outra educação: a do crime. Dividido entre Júlio Verne e um 38 na cintura. Roubar e depois ir numa livraria para comprar um livro.
Longe da presença de minha mãe. Perto de Cindy. Ela sabia de tudo. Me abria com ela, não escondia nada. Ela nunca me reprimiu. Nunca disse faça isso, faça aquilo. Me ouvia e nada me cobrava. Comecei a me apaixonar por ela. Da figura de mãe, Cindy passou a ser para mim uma mulher. Ela sabia disso, sentia meus olhares para seu corpo.
Quando completei 15 anos já não ia mais ao puteiro. Agora ficava mais na rua e em casa. Quando não estava roubando, estava lendo. Depois que lia encontrava-me com Cindy e discutíamos o livro. Às vezes ela não tinha lido o mesmo livro, então eu lhe emprestava. Já não era mais um menino. Com 15 anos tinha me tornado um adulto. Meu rosto, infantil, não condizia com minhas atitudes. Cindy era minha paixão. Amiga, confidente. Mãe? Não, isso tinha ficado para trás. Agora eu já não era mais seu menininho.
Meu primeiro assalto. Um colega da rua me convidou para roubarmos um mercadinho, fiquei um pouco receoso, mas topei. Me arranjou um 32. Entramos no mercado quando já estava fechando. Eu e ele gritando: “todo mundo quieto”. Aqueles rostos apavorados. Saímos com um volume considerável de grana. Torramos tudo num piscar de olhos. Comprei algumas roupas e vários livros. Fui ao cinema com Cindy. Ela adorou. Depois fomos comer. As pessoas nos olhando. Será que pensavam que éramos namorados?
Cindy me deu um livro de um autor brasileiro. Rubem Fonseca: Feliz Ano Novo. Pirei. Li e reli aquele conto que levava o mesmo nome do título. Como aquele cara pudera escrever algo tão real. Tão cruel, mas ao mesmo tempo denunciante. Uma porrada nas nossas caras. Eu queria escrever como ele. Quem me dera. A partir dali comecei a escrever em cadernos minhas lembranças. Mostrava à Cindy. Ela corrigia algumas coisas. Dava uns toques. Amava ela do fundo do meu coração.
Passei a morar só. Eu e minha mãe não cabíamos mais na mesma casa. Ela estava se aposentado. Iria parar, montar alguma coisa. Um cara iria ajudá-la. Conversávamos pouco agora.
Saí de casa e aluguei uma quitinete no centro. Cindy me ajudou a alugar. Eu tinha 16 anos nessa época, minha vida no crime estava ficando agitada, roubava muito. Coisas grandes. Através da leitura me descobri uma pessoa generosa. Não iria roubar gente com pouca grana. Deixaria essa tarefa pro Estado. Bakunin foi meu mestre nessa época. Cindy me emprestou alguns livros dele e sobre ele. Um cliente seu falara dele. Cindy achou que eu gostaria e realmente isso aconteceu. Começamos a nos ver com mais freqüência. Ela ia sempre na minha casa. Conversávamos muito. Propus à ela morarmos juntos. Me disse que naquele momento não poderia.
Ficava olhando para ela. Sua pele lisa, uniforme, aveludada. Seu cabelo estava mais curto. Super escuro. Escorria pelo ombros. Num segmento de estalo falei o que sentia por ela. Nem precisa, ela já sentia essa paixão juvenil. Como num temporal, seus olhos escorriam. Foi então que ela chegou mais próximo de mim e me beijou. Primeiramente um toque leve com os lábios. Depois um beijo ardente. Caloroso. Ininterrupto. A noite era nossa. Nossos corpos quentes, grudados com o suor de ambos. A mulher que eu amava estava ao meu lado. Exuberante. Sua pele pregada à minha. A amei mais naquele instante. Éramos um esplendor da natureza. Pararia o tempo se pudesse.
Estava tentando deixar minha barba crescer. Cindy falou que se eu raspasse ficaria mais cheia. Fiz isso. Em um mês e pouco meu rosto estava com bastante pêlo. Parecia mais velho. Cindy tinha mais de 30; nunca me disse sua idade. Mas isso não me importava. Nos víamos todas as noites. Saíamos juntos. Andávamos de mãos dadas. Éramos um casal. Íamos muito ao cinema. Víamos quase todos os filmes. Discutíamos fotografia, cenário, direção. Líamos juntos livros sobre técnica cinematográfica. Propus para ela fazermos um curta-metragem, mas precisávamos de uma câmera. Resolvi que iria roubar uma. Como em todos os meus assaltos, pesquisei antes sobre o lugar. Fui sozinho. Só queria a câmera de vídeo, nada mais. Tudo certo. Cheguei na loja quase no horário de fechar. Fiquei ali no canto, fingindo que olhava alguma coisa. Esperei que a funcionária abaixasse umas das portas. Chamei por ela e apontei algo na vitrine. Quando ela veio na minha direção, puxei a arma. “Só quero aquela câmera”, falei, apontado na direção do balcão. Vacilei. Não vi a outra pessoa atrás do balcão. O alarme disparou; só deu tempo de pegar a câmera, colocar dentro da mochila e sair em disparada. Quando olho para trás vejo dois homens atrás de mim. De repente sinto uma perna entrelaçar a minha. Caio. Tudo muito rápido. Levanto novamente. Minha vida é um ato insano. Sempre foi. Penso na Cindy. Ouço o disparo. Uma dor horripilante nas costas. Sinto a bala penetrar meu ombro. Escurece tudo. A dor é fenomenal. Tento levantar, mas é tarde... Um chute violento me atinge a barriga.
Acordo num hospital. Cindy está ao lado da cama, juntamente com um homem gordo e com um tapa-olho do lado esquerdo. “Oi”, digo. Ela começa a me explicar que aquele sujeito ao seu lado é o Doutor Tavares. Advogado. “Vou para a Febem?”, pergunto assustado. “Ainda não”. “E a câmera?”. “Desapareceu”...Doutor Tavares consegue uma brecha na justiça: sou réu primário e menor. Dessa vez consigo me safar, mas não sem seqüelas. Meu nome ficará ali, nas garras da lei; qualquer outro ato falho e ela me pegará.
Fico imobilizado por uns 3 meses. Meu ombro esquerdo dói muito. Cindy cuida de mim nesse tempo. Estamos namorando, mas nenhum dos dois diz nada um pro outro. É um relacionamento aberto. Ela está ficando mais velha, noto no seu rosto algumas rugas. Seu cabelo está mais curto. Eu a amo cada vez mais. Nesse período que fico em casa, aproveito e leio tudo que posso. Agora me interesso por história do Brasil.
Cindy me propõe um emprego. Um dos seus “amigos” já providenciou; serei ajudante em sua livraria. Para mim tudo bem, digo para ela. Vou atrás de tirar os documentos. Em uma semana minha vida dá uma guinada, sou um trabalhador agora. Um homem honesto, pagador de impostos.
A livraria é uma jóia rara. Um universo de livros. Cindy me visita quase todos os dias. Comprei um livro de presente para ela. É de uma fotógrafa que tem o mesmo nome que o seu: Cindy Shermann.

No meu aniversário de 18 anos, ganho uma festa surpresa. Cindy preparou tudo. Como tenho poucos amigos, só estão ali, além de Cindy, minha mãe, seu marido; o dono da livraria, mais umas garotas que trabalham com Cindy. Tinha muito vinho e cerveja, como eu não bebo ficava só no refrigerante. A noite passou rápido, nem percebemos. Uma das garotas fica me paquerando. Cindy percebe. Fica quieta. Eu também a paquero. É muito bonita, deve ter uns 20 anos. Minha mãe e seu marido se despedem, levo eles até a saída e agradeço por terem vindo. Na volta encontro com ela, Vivian. O clima entre nós fica cada vez mais quente. Mas sob o olhar de Cindy não iria rolar nada. Combino com Vivian que nos veríamos depois.
Já é de manhã quando todos se vão. Fico ali com Cindy. Não tocamos no assunto da Vivian. Não era a primeira vez que eu saia com outra garota. Ela sabia disso. Mas seria a primeira vez com uma colega sua. Não sei se isso a aborreceu. Acordamos tarde. Tomamos café juntos. Era Domingo. Tinha marcado com a Vivian à noite. Cindy desconfiava disso. Não me contive e falei pra ela. Cometi um erro grosseiro; nunca a tinha visto daquela forma: transtornada. Ela já sabia de tudo, mas não queria ouvir da minha boca. Protestei, não mentiria. Rompemos. Peguei algumas coisas e fui embora.
A noite encontrei com Vivian. Estava uma delícia. Cheirosa. Amava Cindy, mas Vivian tinha o esplendor dos 20 anos. Continuamos a sair, mas não gostaria de me relacionar seriamente com ela. Falei isso para ela logo no início. Ela também não queria nenhum tipo de compromisso. Saíamos juntos, transávamos e só.

Meu trabalho já estava me entediando. O fato de ter ficar ali, enfunado, todos os dias, aqueles clientes metidos a intelectualóides. Sempre repetindo frases feitas. Sempre falando o que os outros já disseram. Papagaios de merda. Isso me irritava. Para compensar a chatice comecei a roubar alguns livros na loja. Pegava a noite, punha na mochila, ninguém desconfiava.
Cindy, desde o nosso rompimento, não aparecia mais na livraria. Estava com muitas saudades dela. Já tinha quase um ano que não nos víamos. Resolvi ir até a sua casa. Fiquei meio receoso, mas quando ela veio abrir a porta e me viu ficou super feliz. Continuava linda, seus cabelos estavam maiores. Nos abraçamos. Procurei sua boca. Não. Tudo bem. Esperaria.
Ela não estava bem, iria parar de trabalhar como prostituta. Tinha juntando uma grana. Mas um ex-cliente seu estava lhe perturbando, ameaçando-a sempre. Me intrometi no assunto. Resolveria a parada. Não, eu não, outro pessoa resolveria.
Ficamos juntos nessa noite. Estava com saudades daqueles abraços. Seu corpo era quente. Foda-se o esplendor dos 20 anos. Aquele corpo era muito era muito mais quente e volumoso. Cindy estava em plena forma.
Saí de sua casa bem cedo. Não fui trabalhar. Com o endereço do canalha na mão fui procura-lo. Ele trabalhava numa empresa de cosméticos. Gerente. Soube também que era casado. Vi seu carro chegando. Esperei ele estacionar e sair do carro. Me aproximei e chamei pelo seu nome. Quando ele olhou para trás acertei sua boca com um soco. Ficou meio tonto, sem saber o que fazer, aproveitei e enfiei o pé na sua barriga. Caio. Olhei pros lados para me certificar de que ninguém nos via. Nada. Ele ali caído, se contorcendo, aproveitei e dei-lhe umas bicudas. Quando vejo outras pessoas se aproximando, me mando. O recado estava dado.
No outro dia passei na livraria. Pedi as contas. Não queria mais aquele serviço. O dono não falou nada. Voltaria depois para receber. Deu vontade de rouba-lo, mas não seria uma boa idéia. Fui encontrar-me com a Cindy, almoçamos juntos. Ela me diz que o canalha havia ligado. Não tinha jeito, as providências tinham que ser mais trágicas. Não menti pra ela. Disse-lhe que eu mesmo havia feito o serviço. Não gostou muito. Foi quando ela me disse que iria embora pro Rio de Janeiro. Perguntou se eu não queria ir junto. Propôs que morássemos juntos lá. Não pegaria no meu pé. Poderia sair com quem eu quisesse. E ela também. Prometi que pensaria a respeito. Transamos muito nessa noite. Ela parecia que estava possuída.
Saí de sua casa pensando na proposta de irmos pro Rio. Não sabia se isso era o melhor para mim naquele momento. Estava totalmente sem grana. Precisava me erguer, depois quem sabe...voltei para minha casa. Aquela Kit estava me saturando. Essa rotina não era para mim. Minha vida exigia ação. Desde cedo vi e vivi essa ação. Sempre mudando com minha mãe. Sempre o movimento presente em nossas vidas ordinárias. Cresci com esse movimento constante. Pessoas entravam e saiam a todo instante. Via isso com naturalidade. Sempre foi assim. Minha infância toda assim. Mulheres nuas. Sempre as vi nuas. Com 12 anos já trepava com as prostitutas. A naturalidade das coisas...uma subversão do modo familiar de se viver.
Passei por tudo. Via aquelas mulheres se drogando: cocaína, heroína...Nunca experimentei nada. Nem bebida alcóolica. De tanto ver pessoas se matando fiquei com aversão. Minha adrenalina é outra...
Não sei se estava preparado para esse relacionamento com a Cindy. Seu ciúme era muito, por mais que ela falasse que não, tinha lá minhas dúvidas.
Dormi mal, meus pensamentos em abundância. Logo de manhã Cindy está na minha casa. Também tinha dormido mal. Veio me avisar que já estava indo para o Rio. Queria saber se eu iria com ela. Fiquei pasmo. As mulheres tomam as decisões muito rápido; sua lógica era dinâmica. Falei para ela que não. Ela já sabia disso, só veio confirmar. Me abraçou. Nos beijamos. Me passou o endereço de onde iria ficar, fiquei olhando ela sair.
A ficha ainda não tinha caído. Para mim iria ver Cindy mais tarde. Pura ilusão que o cérebro cria para aliviar a dor. Estava muito triste com a ida dela para o Rio de Janeiro.
Fiquei um pouco em casa, mas logo veio a idéia de fazer um assalto. Mas o quê? Não tinha me programado, nem planejado nada. Precisava aliviar a tensão causada pela viagem de Cindy. Estava irrequieto. Minha cabeça pensando. Nada me aquietava. Tentei ler, ouvir música. Nada. Saí e fui ao cinema. Tentava me acomodar...saí e passei na livraria. Já estava planejando assaltar ali mesmo...fiquei um tempo ali observando. Conversei com a garota do caixa. Cadê o dono. Ah tá não...viajando. Não poderia ser mais perfeito. Voltei para casa mais calmo.
Já tinha tudo em mente. Acordei cedo peguei minha arma e coloquei dentro da bolsa. Cheguei na livraria antes mesmo de abrir. Chega a caixa e mais dois funcionários. Não me vêem. Espero eles abrirem as portas. Assim que a livraria está aberto entro e vou direto pro caixa. A moça quando me vê toma um susto. Você por aqui?? Conversei um pouco com ela. Vagabunda. Pensava que eu não sabia que ela saia com o dono. Depois vinha falar das prostitutas. Nunca gostei dela. Era agora. Abri a bolsa e mostrei a arma para ela. Sem alarmes, falei baixinho. Pedi a grana. Ela teimou dizendo que não tinha nada. Sem vergonha do caralho. Forcei a voz e fiz ameaças. Abriu o caixa e me passou o que tinha dentro. Safada. Digo pra ela que embaixo também tem dinheiro. É um compartimento que tem nos caixas. Não serve pra porra nenhuma; já tinha sacado aquilo quando trabalhei ali. Levantou. Um monte de nota de 50 e 100. Me passou tudo. Olhei para a livraria. Alguns cliente começaram a chegar. Olhei para a vagabunda, pela sua cara vi que queria ficar com algum dinheiro. Dei-lhe umas notas. Pisquei para ela. Entendeu a mensagem.
Sai fora. Acho que alguém percebeu. Tomei um ônibus e fui direto para a rodoviária. Comprei passagem pro Rio. Só pensava na Cindy. Logo quando sento na poltrona verifico quanto consegui. 2 mil e pouco. dava pra fazer alguma coisa.
Durmo um pouco e sonho com a praia...chego na rodoviária carioca de noite. Ligo pra Cindy. Ela toma um susto. Pego um táxi e vou para sua casa. Vejo a praia da janela do carro. É uma paisagem linda.
Do portão ela já me avista. Está com um shortinho colado. Seu corpo ainda é bonito. Firme. Deve ter uns 40 anos, penso enquanto pago o taxista. Ela está contente. Nos abraçamos como nunca. Parecia que não nos víamos há uns 100 anos.
A casa que ela está é grande. Uma amiga sua emprestou. Falo o que fiz em São Paulo. Ela não acredita. Fica um pouco nervosa. Tento argumentar que a mina do caixa levou sua parte. Talvez ela ficasse quieta, mas tudo em vão. Me pergunta quanto eu consegui. 2 mil. E suas coisas? Em São Paulo, depois eu pego.
Ela me fala que conseguiu uma casa em Petrópolis, lá iria abrir um antiquário. É a nossa chance, ela fala feliz. Conversamos muito sobre um monte de coisas e depois fomos passear na praia. Era a primeira vez que eu via o mar. Que emoção. Aquelas luzes. A noite a cidade era mais charmosa.
Cindy me apresentou sua amiga. era um travesti. Susy Cristina. Ela tinha o rosto bem feminino. Magra, alta. Acho que ela colocou todo o silicone do mundo nos peitos e na bunda. Até nos quadril, depois fiquei sabendo. Trabalhava de noite numa boate em Botafogo. Fomos até lá. Uma boa parte daqueles travecos se passavam por mulher tranqüilamente. Qualquer cabra macho se encantava quando via aquelas “meninas”. Cindy brincava comigo, me perguntando se eu sairia com uma delas. Disse que não tinha preconceito nenhum, mas não transaria com elas em hipótese alguma.
Tinha que voltar para São Paulo, pegar minhas coisas. Já estava há uma semana no Rio. Cindy comprou roupas para mim. Não deixava eu gastar o dinheiro. Comia e bebia à suas custas. Ela nem ligava, eu ficava um pouco receoso. Sabia que não tinha problemas nenhum. Ajudava ela nas tarefas domésticas.
De dia Susy, quando não estava dormindo, ficava conosco. Nunca me cantou. Sabia do meu relacionamento com Cindy. conversávamos sobre isso. Ela me perguntava se eu não achava ruim sair com uma mulher mais velha. Dizia que não. Amava Cindy verdadeiramente.
Já estava tudo pronto. Cindy conseguiu um caminhão para trazer minhas coisas direto para Petrópolis. Cheguei em São Paulo à noite. Tínhamos planejado isso. Evitaria que alguém reconhecesse na rua. Tomei o metro e fui direto pro apartamento. Tudo igual. Ainda perguntei pro porteiro se alguém tinha me procurado. Ninguém. Ótimo. Avisei que iria mudar. O caminhão chegaria de manhã.
Tinha que ensacar as coisas, procurei alguns sacos...tinha que comprar uns...desci. 4 e pouco. termino tudo. Cochilo um pouco; desperto com a campanhia do interfone. Era o motorista que me aguardava. Olhei no relógio 8 horas. Desci. Bom dia. Subimos e começamos a descer as malas, os sacos e tudo mais. Terminamos de colocar as coisas no caminhão eram quase 10 horas. Estava suado e cansado. Dei uma última olhada na Kit. Algumas coisas ficariam ali, cama, um armário; fogão. Para isso não tinha importância.
Desci. Fui no caminhão. Fizemos a viagem até Petrópolis em 15 horas. Sentia um frio na barriga. Um desequilíbrio. A minha vida era isso. Talvez agora...era outra chance. Não podia reclamar. Nunca reclamei. Eu assumo minhas responsabilidades. Sabia da ação e reação.
Chegamos em Petrópolis a tarde. Estava muito frio e a garoa fina cobria a cidade. O barulho do caminhão fez Cindy sair para fora. Ficou feliz ao em ver. Também fiquei muito feliz.
Descarregamos as coisas. Foi mais rápido do que carregar. Estava quebrado. Deitei e dormi rapidamente. Sonhei com Cindy. corríamos pela praia. Estava frio mas nós estávamos pelados. Correndo e mergulhando no mar. Quando paramos ela me pega no colo e começa a me amamentar. Fico com nojo daquilo, mas não consigo evitar. Ela tem mais força do que eu e não deixa eu me soltar.
Dormi o dia todo. Acordei no outro dia cedo. Estava um pouco triste. Contei meu sonho para Cindy. ela riu e mandou eu ler Freud. Ficamos em casa arrumando as coisas. Era uma casa grande. Perguntei quem era o dono. Ela não quis falar. Contei os cômodos da casa: 10. Mais uma área de serviço enorme. Lavanderia e um quintal repleto de árvores. Uma garagem que cabiam uns 4 carros tranqüilamente.
Terminamos de arrumar a casa já era tarde. Eu e ela teríamos quarto separados. Era melhor assim. Liguei pra minha mãe. Ela já sabia que eu estava em Petrópolis. Cindy lhe falara. Disse que estava tudo bem. Na verdade acho que ela nunca se preocupou comigo. Sempre suas coisas, seu corpo. Tinha que manter o corpo sempre em forma. Era isso que ela me falava. Senão como iria alimentar a gente. Malhava e se alimentava bem. Seu corpo era sua ferramenta de trabalho. Ela era uma mulher bonita, mesmo agora, mais velha, a beleza não a abandonara.
Cindy perguntou se eu queria conhecer Petrópolis a noite. Propus que ficássemos em casa e trepássemos bastante. Ela aceitou. Então ficamos transando. Era muito bom transar com ela. Sabia das coisas. Eu era seu garotinho. Mesmo agora com quase 20 anos. Sentia se afeto, sua ternura. Será que eu tinha complexo de Édipo? Se tinha também foda-se. Nem ligava. Eu adorava Cindy. era uma mulher gostosona. Bunda grande. Ela ficava em cima de mim rebolando. Eu adorava isso.
Já tinha me acostumado ao clima de Petrópolis. A qualidade de vida era indubitavelmente superior a qualquer outra cidade grande. Cindy já conseguira montar seu antiquário. Vendia de tudo: livros, objetos de artes, móveis antigos; às vezes coisas sem o mínimo valor que ela vendia para algum otário metido a sabichão por um preço de relíquia. Quando isso acontecia ela me olhava e piscava. Eu ria baixinho. Quando o fulano saia, aí sim, ríamos muito e alto.
A vida seguia. Éramos um casal. Estávamos casados. Não saíra com mais nenhuma mulher desde então. Mas a terapia amoral da vida é surpreendente. Ela nos arremata e joga conosco. Quando tudo parece certo a linearidade é rompida bruscamente.
Iria completar 21 anos e Cindy programara uma festa. Susy já estava em nossa casa. Viera do Rio juntamente com outro travesti, sua amiga, Leonora. Não era bonita com Susy. Tinha o rosto retalhado. As bochechas muito grande. Cindy me disse que Leonora estivera presa por tráfico. Era usuária de cocaína.
Um dia antes da festa fui ao mercado comprar as coisas. Já conhecia algumas pessoas na cidade. Passei na casa de uma garota, Michele. Tinha conhecido ela numa loja de roupas. Sua mãe me atendeu. Disse-me que ela estava trabalhando, só estaria em casa a tarde. Convidei-a também para a festa. Fui até a loja e encontro Michele. Oi. Falo sobre a festa. Fala que vai. Fico feliz. Gostava dela, mas ela sabia do meu rolo com Cindy e não tinha me dado nenhuma chance. Fui embora para casa.
No outro dia logo cedo começamos a arrumação. a tarde já estava tudo pronto. Leonora e Susy já estavam chapadas. Não conseguiam nem falar direito. A boca retorcida. Cindy estava linda. Estava com um vestido preto; os cabelos pretos. Do jeito que eu gostava.
As pessoas começaram a aparecer. Michele apareceu bem cedo. Estava muito bonita. Uma blusinha mostrando a barriga e uma calças jeans bem justa delineava seu corpo. Dançamos juntos. Cindy nos olhava com a canto dos olhos. Michele dançava bem. Eu não fazia feio. Também dancei com Cindy, tentando aplacar um pouco seu ciúmes. Ela jurava que não estava com ciúmes, eu só ria. Estava feliz.
Fui até o quintal comer um churrasco. Vi Susy subindo pro quarto. Estava se prostituindo. Aquilo me irritou. Fui pra sala e falei com Cindy. ela disse que não tinha nada a ver a minha irritação. Sai e fui para fora novamente. Num canto do jardim Leonora estava paralisada. Nem se mexia de tão louca que estava. Cindy veio falar comigo. Perguntou se eu estava irritado. Disse que não. Estava tudo bem.
Mais tarde ouvimos um grito vindo lá de cima, do quarto. Era Susy. Subimos para ver o que tinha acontecido. O cara que tinha subido com ela, estava caído, se contorcendo; a boca espumando. Susy chorando desesperadamente. O cara estava tendo uma overdose. Na mesa ao lado a cocaína esparramada.
Cindy me pediu que fechasse a porta e foi até o cara e começou a pressionar seu peito. Forçava com a mão. Quando fui ajudá-la já era tarde demais. O cara estava morto. Desespero total. Descemos e pedimos para as pessoas irem embora. Que desalento. Estava com um ódio daqueles travestis. Viciados de merda. Minha vontade era matar os dois. Despedimo-nos das pessoas. Pedimos desculpas. Nem vi a hora que Michele saio. Olhei pro jardim e vi Leonora tombada. Fui até lá e enchi sua barriga de chutes.
Estava na varanda quando Cindy veio falar comigo. Pediu que eu dormisse fora, só voltasse no outro dia. Compreendi sua preocupação. Peguei minha mochila, coloquei algumas coisas e saí. Dormi numa pensão no centro da cidade. Levantei no outro dia cedinho. Tomei o café oferecido pela pensão. Voltei andando para casa.
Aparentemente estava tudo em ordem. Ainda estava bagunçada, resultado da festa. O chão repleto de latas de cervejas. Não tinha ninguém. Vi um bilhete na geladeira. Era da Cindy. Dizia que tinha ido para a delegacia. Não era para mim ir atrás dela, esperasse em casa. Saí novamente e fui até a casa da Michele. Chamei. Ela veio me atender. Me convidou para entrar. Falei que não precisava. Ficamos ali no quintal. Pedi desculpas pelo acontecido. Ela, muito compreensível, fala que eu não tinha culpa nenhuma. Ficamos conversando. Então a convido para sair. E a Cindy?, pergunta meio desconfiada. Explico para ela que minha relação com a Cindy era de amizade. Morávamos juntos, transávamos de vez em quando, mas não éramos um casal. Ficou pensativa e me disse que aquela era uma situação nova para ela. Entendi. Quando ia me despedir, ela me pergunta se eu já arrumei a casa. Digo que não. Então ela pergunta se não gostaria da sua ajuda. Achei ótimo.
Limpamos tudo. A casa estava uma imundície geral. Vômitos, latas espalhadas, copos quebrados, camisinhas...Aproveitei e mostrei meu quarto para Michele, reforçando o que eu lhe havia dito sobre meu relacionamento com Cindy. Contei-lhe minha história. Ela ficou pasmada. Confie nela. Senti que gostou disso. Éramos mais íntimos agora. Ela também me contou sobre sua vida; viera de outra cidade, Porto Alegre, com sua família. A empresa que seu pai trabalhava tinha se transferido para Petrópolis. Ela não gostava muito daquele lugar. Achava que não tinha muita coisa para se fazer. Combinamos de irmos ao cinema.
Cindy chegou bem tarde. Estava cansada. Falou que teria que depor sobre a morte do cara. Susy tinha ficado presa por tráfico. Ainda tinha bronca passadas. Leonora fora embora. Achava que alguém a tinha chutado; sua barriga estava toda rocha. Contei pra Cindy que Michele estivera comigo, me ajudando a limpar a casa. Maldita hora que falei isso. Começou a falar sem parar. Você não perde tempo mesmo...era isso é muito mais coisas...fiquei muito irritado com aquilo. Lembrei para ela das suas próprias palavras sobre nosso relacionamento. Ficamos discutindo durante um bom tempo. Eu já previa que isso ocorreria. Cindy é ciumenta ao extremo. Essa foi nossa briga mais violenta.
Quando acordei ela já tinha ido pro antiquário. Fiquei pensando nessa nossa relação. Estava tudo bem desde que eu ficasse sob sua tutela. Isso eu não queria. Já havíamos conversado. Ela mesma tinha proposto uma relação aberta. Gostava dela mas não queria ficar como uma espécie de brinquedinho, que ela usa e depois guarda para brincar mais tarde.
Fui pro antiquário. Já cheguei falando. Ela só ouvia. Falei tudo que eu estava pensando. Ela começou a chorar e gritar comigo. Falou que eu só estava usando ela. Jogou tudo na cara: você come e bebe de graça. Chamei ela de mentirosa. Então senti sua mão na minha cara. Era a primeira vez que alguém batia na minha cara. Aquilo me enervou ao máximo. Fiquei cego de raiva. Fui pra cima dela. Quando parei de bater ela estava caída no chão sangrando muito. Levantou e pegou o primeiro objeto que sua mão alcançou: uma estátua. Lançou-a contra minha cabeça. Acertou em cheio. Fiquei tonto. Minhas vistas escureceram; tentei me apoiar em alguma coisa. Não vi nada. Caí. Fiquei alguns segundos esperando. O sangue escorria da minha cabeça...descia pelo lado do rosto e seguia pelo pescoço. Porra! Gritei, o que deu em você caralho? Ela começou a me xingar e me mandou embora. Mas eu tinha o meu orgulho e ele estava muito ferido. Ela não iria se safar assim. Apanhei uma peça de ferro e fui pra cima dela. Ela desviou da primeira tacada, mas a segunda foi fatal. Pegou numa parte do rosto e da cabeça. Caio ensangüentada. Um cliente entrou na loja. Gritei para ele sair fora. Precisava sair dali urgentemente. Fui até o caixa e peguei a grana que tinha lá. Voltei pra casa e enchi minha bolsa com tudo que cabia: livros, roupas, cds...peguei mais dinheiro. Lavei a cabeça, tinha um corte enorme...fiz um curativo meia boca e saí.
Na praça tomei um táxi pro Rio. Ainda estava sangrando, mas era menos. Cheguei na rodoviária do Rio e peguei um ônibus para a Bahia. Minha vida de nômade inescrupuloso estava começando...

Indo pra casa

Fechei a loja às 18 em ponto. A chuva cortava a poluição e se derramava pela avenida, criando um ralo rio, levando todos os sacos de lixos que encontrava pela frente. Desci correndo a avenida, sempre em baixo dos toldos e me desviando dos guarda-chuvas que teimam em vim em minha direção. As coberturas dos comércios nunca tiveram uma função tão nobre. Só a chuva seria capaz dessa proeza. Das calçadas só podemos dizer uma coisa: péssimas. Continuo descendo, esbarrando em um, desviando, ora de uma goteira, ora de um transeunte, assim como eu, só que com um enorme guarda-chuva. Já estou com as calças respingadas. O boné cobre a cabeça, ajuda um pouco.
Atravesso a avenida em direção à estação de trem, esse transporte drástico. Na parte da estação, onde fica as bilheterias, tudo muito sujo. Cachorros, vendedores, perueiros. Algazarra geral. Kemel 2, Camargo Novo...Esses nomes são gritados a todo instante. Assim que aponta um trem na plataforma, vindo do Brás, já começam o corre-corre dos perueiros em busca dos seus passageiros.
Olha o bilhete, olha o bilhete, é o ambulante disputando a venda de bilhetes com a CPTM. O preço é o mesmo, em ambos. Dependendo da fila na bilheteria, o ambulante leva meus 2,10. Às vezes já compro um múltiplo de 10. Economizo tempo. Nada mais do que isso. Dessa vez não tenho múltiplo. A ambulante foi o escolhido. Quando estou pagando a valorizadíssima passagem ao camelô, o trem, vindo de Calmon Viana, com destino ao Brás, já está na plataforma. Pago e pego o bilhete. Não corro para pegar o trem, resolve ir até a padaria tomar um café. É o tempo que levará até aparecer outro trem, isso é, se tudo correr bem. Essas é umas das incógnitas que a CPTM nos brinda: nunca sabemos o horário dos trens. Se der sorte, quando chegar na estação pode ser que não fique muito tempo esperando. Já aprendi essa lição. Ando sempre com alguma coisa para ler. É recomendável, ajuda a passar o tempo e diluir a dor que esse transporte causa em nós, usuários, quando estamos dentro e vemos suas portas quebradas, seu chão pregado com madeiras e cheio de lixo.
Vou até a padaria, peço um café com leite e um pão com manteiga. Ao meu lado um sujeito que está tomando cerveja acende um cigarro, levanto e vou pro outro lado do balcão. Fico de pé contemplando a paisagem burlesca do Itaim Paulista. O que era para ser uma praça agora é um amontoado de barracas e bancas de camelôs. Vendem de tudo: cds, dvds, roupas, iogurtes, balas etc....Um conhecido meu que trabalha na CPTM me disse que ali, nesse lugar, será construída uma entrada subterrânea para a estação. É difícil de acreditar nisso. Olho a passarela que liga os dois lados do bairro e da estação. É certamente umas das coisas mais horrível do universo. Camelôs a tomam de ponta a ponta. Também vendendo de tudo. Ali se faz qualquer negócio. Eu mesmo já comprei uma tv e alguns livros.
Como o pão, quentinho. De uma loja ao lado da padaria vem uma música alta que dói os ouvidos. Não entendo como essas lojas usam essas músicas repugnantes para atrair clientes. Essa lógica de marketing é incompreensível. Me pergunto como é possível que uma pessoa em sã consciência entre numa lojas dessas; uma loja que põe uma caixa na frente e toca um tipo de música desagradável, como essa loja pode atrair clientela? Talvez esse seja o grande enigma do universo, pelo menos para mim. Um moleque interrompe meus pensamentos, me pede um trocado. Ofereço um salgado. Coxinha? Não, quer um lanche. Meu dinheiro não dá, só dá para coxinha. Não aceita. Vai até outra pessoa que está ali e faz o mesmo jogo. Pergunto pro atendente quanto que eu pago. 1,20. Vou até o caixa. O cara de dentro do balcão então grita a todo pulmão em direção ao caixa. VAI PAGAR UM E 20. Pago, agradeço e vou para a estação. A chuva cessou. Bilhete...bilhete...Camargo Novo, Kemel, Encosta Norte.
Entro na estação, sento num dos bancos, espero o trem mais uns 15 minutos. Daqui a pouco o apito. Fecho a mochila. Quando o trem pára na plataforma e abre as portas vejo que está totalmente molhado. Choveu dentro. Assim que entro procuro um lugar para sentar que esteja seco. Recomeço minha leitura, Histórias sem Data, Machado de Assis. São contos. À minha frente, no outro banco, 3 rapazes jogam palitinhos. Páro de ler, difícil se concentrar com tanto barulho. Fico reparando neles, são ambulantes que vendem dentro do trem. Eles não usam palitos, usam moedas e pedaços de papel. O primeiro a falar começa com 5, o segundo 4 e o terceiro 6, depois de uma gritaria abrem a mão, o terceiro ganhou. Esse começa a tirar um barato do outro. Daqui a pouco retomam, 5, 6, 4. O terceiro a falar ganha novamente e depois mais uma vez. Os dois têm que pagar 1 real para ele. O primeiro não aceita a derrota. Estação São Miguel. Entram algumas pessoas, uma mulher vem sentar do meu lado, aviso que está molhado. Não liga, senta assim mesmo. Continuo olhando os caras, que agora estão discutindo. No meu entender o primeiro não quer pagar o 1 real do terceiro. Volto a ler. Ermelino Matarazo. A chuva retorna, está bem forte. Cerveja geladinha, refri, água...os camelôs circulam de um lado pro outro do vagão vendendo seus produtos. Não é raro encontrar no mesmo vagão 2 ou 3 pessoas vendendo o mesmo produto. Guardo meu livro e fico olhando a paisagem. A construção da USP Leste continua lenta. Engenheiro Goulart. É a minha estação. O trem pára, desço, a chuva está bem forte, saio correndo para casa.

SOBREVIVO

as ondas do acontecimento.
recôndito brilhar,
suave.
pasmem,
estou vivo!
estou ao vivo –
sentido tudo!
vivendo tudo.
meios libertadores,
uso-os,
rasgo-me – e
estou sobrevivo,
caminho...
olho os fatos.
tudo tão calmo,
febris diversões,
sons...

Somente o alvorecer

Até ontem estava dormindo
Até ontem amanheci
Hoje é somente um nome
Não quero saber de nomes
Quero saber das pessoas
Estas sim, quero muito mais que simples nomes
Acordar e sair por algum lugar
Procurando pessoas...
Procurando tudo
Daqui já não vai dar em nada
Ali...não sei,
preciso ir ali.

Um conto abstrato

Na minha cabeça passava um monte de coisa absurdas.
Acho que são essas sutilezas que permeiam a gente.
Sem saber mesmo de nada percorri aquele quarteirão rompendo com o abstrato da pequenez. Essa mediocridade ainda me mata. Absurdo! Irrelevante, diria...
Não, não posso ser tão rude assim, mesmo não tendo pensamentos tão contagiantes, mesmo não sendo o fila-da-puta mais astuto do planeta. Mas quem eu quero enganar?, a mim mesmo? Vou a forra, vou me mudar, em breve, vocês verão.
Continuo pensando em tudo que cometi. Alguns diriam que sou feliz. Até posso ser. Querendo posso ser tudo, até mesmo ser feliz.
Quanta baboseira num pequeno e curto espaço de tempo, quantas indelicadezas. Não estou muito preocupado em relação a isso, me preocupo mais com outras coisas.
Nem sei mais...Algumas cenas me marcam, tenho vistos algumas chocantes, pelo menos para mim, hoje de manhã vi mais uma. Como gostaria de influenciar essa cena, altera-la de alguma forma.
Mas tem algumas coisas que leio que diz o contrário. Todas essas teorias de merda, uma grande bosta condizente com a situação de quem está passando por isso. Você lê a porcaria, a sua subjetividade relaciona com esse tempo, então você é fisgado pela noção do autor. Bingo!, caiu na rede, não refletiu sobre aquele texto, apenas engoliu.
Não caia na teoria, busque a prática, ela sim vale a pena.
É isso.

Um momento qualquer

Em qualquer momento vivido
temos um próprio momento
só nosso,
único,
consistente de outras ocasiões.
Porém,
se nesse íntimo estivermos conscientes
de nossos atos
(o que os zen-budistas chamam “mente alerta”)
proporcionaremos um ato de equilíbrio fascinanted
esenvolvido através da capacidade de raciocínio.
Essa objetividade introspectiva é facultativa -
a imposição de regras
é que nos atormenta
ditando a nossa condição
regrando a nossa subjetivida
delimitando nossa extensão
e nosso poder de receber
impressões externas.

AGORA É ASSIM

Agora é assim...
Tanto faz se bem ou ruim,
preciso sair fora –
a náuseajá está contaminado tudo.
Só queria sentir um odor agradável,
hahaha...
minha boca se entreabre,
gesto maldito: sorrir.
Sair por aí sem conexão-
sem razão.
Agora é assim...
Cambalear, apalpar, rasgar.
Armas, muros, transpor tudo.
Amor,
ser,
embrulhos,
artificialidade nas emoções;
consisto em querer alterações.
Piedade...Crueldade...
Agora é assim...
Todos contra,
tudo contra,
a alma se acalanta,
ninguém vem ao meu encontro...
ninguém vem salvar ninguém...
todos contra todos...
saio por aí,
vejo as obras de artes,
vejo um filme,
vou a um show,
vejo a cidade,
ela sangra,
eu sangro...
São tão vulneráveis,
Sou tão vulnerável...
choros,
Uivos para Ginsberg.
Estradas para Kerouac.
Maldição para o mundo...
Agora é assim.
Nada mais – agora é assim – nada mais – agora é assim...
Agora o meu não querer pensar
Tornou-se o meu não querer agir
E isso também me torna um improdutivo
Mas o meu ócio me é produtivo
Ninguém me diz o que fazer
O ócio me é satisfatório
Fico horas a fio sem produzir
Fico num total estado de imersão
Em mim mesmo
Sempre em mim mesmo
Pensando nas questões sociais e
Fazendo planos para minha estadia em Outras localidades
E isso me é bom
Não atrapalho ninguém na sua produtividade
Não desfaço valores horrendos de outros
Ora por não desestruturar
Ora por não querer mesmo
Até já fui um reclamador
Mas tudo isso foi em vão
Hoje apenas não incomodo ninguém
Meus pensamentos são meus pensamentos
Minha intransigência é somente minha
Como é bom ser intransigente
E não tornar as coisas piores
Deixo de acreditar em tudo
Aquilo que meus olhos vêem
Aquilo que me ouvidos ouvem
Esses sentimentos são meus
E é por isso que existo

Adiar

Qualquer coisa hoje
Só hoje, sim,
só hoje...
Amanhã pensarei na minha questão subjetiva,
Mas hoje pensarei na minha instância confusa
Só hoje
Pensarei mais nada hoje
Amanhã levarei em consideração
esses pensamentos
Hoje posso tudo,
Quem saberá de amanhã
Hoje sou deus
Amanhã nem vivo estarei
Só hoje...
O hoje me é viável
O íntimo revelador do hoje
Não canso de pensar nisso hoje...
Não estarei pensando nisso amanhã.
Algo bom acontecerá hoje
Algo notável estará me esperando amanhã?
Só hoje estarei prestes a revolucionar
Amanhã não terá mais dia
Depois, quem sabe...
Saberia definir –
Me definir –
Só hoje.
hoje somos todos um arquétipo de
metralhadoras
flutuantes dentro
de uma esfera danada
e sucateada
pela dimensão cinzenta da
ocasião
que nem resplandece
porém transborda
e derrama
seu aniquilamento
fazendo-nos
todos
subprodutos e subviventes
percorrendo a desgraça
e com ela viajando
da mais ínfima até
a loucura cega
e destruidora
que nos acomete
tanto pela paranóia
de buscar
sempre algo inexistente
como se fazer passar por aquilo
que não somos
e uma vez mais grudar
essa máscara na pele
que nem sabemos mais
como deve ser...

Amor Platônico.

Todos nós temos um amor platônico. Essa afirmação pode até soar autoritária. Mas mesmo assim continuo afirmando que todos nós temos, realmente, um amor platônico. Aquele guardado no fundo da alma. Ninguém sabe. Não confidenciamos esse amor com ninguém mesmo, nem com o mais íntimo amigo. Mas eu acho que, talvez, esse amigo desconfie de alguma coisa; mas como amigo é sempre aquele que nunca nos atormenta, ele acaba ficando quieto. Pois bem, também tinha meu amor reservado. E aqui começa a minha história.
Nesse tempo eu estava namorando. Acabava de completar 3 meses. Ela era uma garota de cabelos curtos e olhos castanhos claros, que num reflexo de luz mais forte do sol chegavam a ficar quase verdes. Não que isso tenha muita importância para mim, acho que a cor dos olhos são simplesmente a cor dos olhos e nada mais do que isso, mas para efeito de narrativa desse meu caso, detalho para vocês essa fisionomia de minha namorada.
Eu a tinha conhecido num desses festivais de cinema que pipocam pela cidade. Lá estava eu na fila dos ingressos quando sinto um esbarrão no meu ombro, volto-me e vejo 4 pessoas que tentavam, na maior cara de pau, cortar a fila; eu, que sou avesso a esse tipo de atitude, logo que a vi lancei um olhar de indignação. Ela sorriu. Cai na armadilha. Logo depois estavámos sentando lado a lado da poltrona, conversando muito. O filme?, até hoje não sei do que se tratava. Mas valeu a pena.
Nosso relacionamento ia bem, saíamos bastante, tínhamos quase o mesmo gosto, conversávamos muito sobre tudo, desde culturas pré-colombianas até futebol de várzea que eu acompanhava aos domingos de manhã num dos últimos campos que sobrou, já que quase todos os campos de futebol tinham se transformado em prédios da CDHU. Ela, quando dormia em casa do sábado pro domingo, também passou a ir comigo nesses jogos. Era muito divertido vermos aqueles jogadores de fim de semana se racharem naquele campo de terra seca. Aquelas barrigas de cervejas iam e viam, não correndo, pois acho que isso era pedir demais para aqueles jogadores, mas o ritmo de jogo até que não fazia feio não. Já vi muito dito profissional de futebol jogar pior do que esses de várzea. Ali, naquele espaço de terra com duas traves, ali sim tinha suor, garra, respeito pelo esporte. Eu admirava isso naqueles pançudos, mesmo que alguns não tivessem técnica nenhuma, mas a raça contava e ditava o ritmo do jogo.Divaguei um pouco sobre a arte futebolística, uma de minhas paixões, para mostrar para vocês o quanto nosso relacionamento era eclético.
Agora voltando ao caso do amor platônico, tenho a dizer para vocês que sempre, sempre mesmo, por mais feliz que eu estava ao lado daquela garota ruiva de cabelos curtos – e mesmo em outras relações anteriores, que sempre foram curtíssimas, eu pensava na outra, no amor não correspondido. Para ser sincero não sei se realmente era um amor não correspondido, pois acho que ela nem sabia que eu sentia tamanha paixão. Ou se sabia, fingia muito bem. Éramos amigos de longa data; tínhamos nos conhecidos, se não me falha a memória, na 4º ou 5º série, a partir daí não nos desgrudamos mais. Mas o meu amor por ela, ou pelo menos eu descobri isso nessa época, começou quando eu estava com 22 anos. Passei a notar outras características nela, além da beleza.Sempre estavámos em contato, saíamos juntos, conversarmos bastante. Também sobre, quase, tudo, pois ela, ao que me parecia, não gostava muito de futebol, mas gostava de cinema e artes. Isso me agradava muito. Era uma pessoa muito inteligente e muito, mas muito bonita mesmo. Mas - isso é a pura verdade - não era sua beleza que me atraia, era outra coisa. Não sei bem o que. Seu jeito descontraído. Sua voz, seu jeito de falar, seu comportamento diferenciado. Tudo isso e muito mais coisas que não preciso relatar aqui.
Mas agora eu estava namorando e como saíamos bastante eu quase não tinha tempo de ver ou sair com essa minha amiga. Às vezes, confesso friamente, dava uma desculpa esfarrapada - que acho mesmo que minha namorada não acreditava muito mas deixava prá lá só para não criar uma confusão boba – e saía com minha amiga. Gostava de sair com ela. Estavámos sempre felizes juntos, ali não havia lugar para a tristeza, por mais aborrecidos que estivéssemos, quando nos encontrávamos tudo se alterava, deixávamos tudo do lado de fora. Sem contar que eu era louco por ela. Ficava olhando para ela de uma forma a endeusa-la. Queria agarra-la, beijar-lhe toda. Era uma sensação muito louca mesmo. Mas também gostava de sua companhia. Sua feminilidade me deixava transtornado. Seu cheiro penetrava pelas minhas narinas a ponto de me fustigar por inteiro.
Minha namorada já a havia conhecido, tinha gostado muito dela, acho que as duas davam uma boa dupla. Ficava imaginando transar com as duas ao mesmo tempo. Acho que seria tudo que um homem poderia pedir da vida. Fazer sexo com duas mulheres maravilhosas, lindas e inteligentes. Seria como ganhar um monte de vezes na loteria, bom, pelo menos eu acho isso. Como isso não ocorreria, ficava nos meus pensamentos solitários. Minha namorada era uma pessoa muito inteligente e tudo, mas não toparia uma parada dessas e a minha amiga, por mais maravilhosa que fosse, tinha seu lado conservador. Isso ela já tinha me dito numa conversa sobre casamento e filhos. Ela sonhava em casar numa igreja (católica) toda decorada de orquídeas e flores coloridas, e constituir famílias com 2 filhos. Não que eu seja contra isso, mas casar talvez seja uma coisa que eu não deseje muito nesse momento e filhos também não estavam nos meus planos.
Hoje penso que isso tenha me guardado um pouco sobre uma aproximação mais detalhada com essa minha amiga. Simples que um desejo se concretize, ou mais ou menos simples. Em primeiro lugar temos que agir, fazer o movimento. Eu não, não agia de forma nenhuma. Era um verdadeiro idiota com um amor platônico. Aliás, já ouvi, ou já li em algum lugar, que o amor platônico tem que se manter dessa forma, endeusamos alguém, no caso do homem, transformamos nossa querida numa musa. Então era isso, essa amiga era minha musa. Não tinha coragem de falar pra ela o quanto eu gostava dela e queria fazer sexo com ela e beija-la e ficar a seus pés, como Leminski escreveu num poema.
As coisas continuavam do mesmo jeito. Minha vidinha prosseguia. Não era um cara infeliz. Vivia bem com minha namorada e levava algumas coisas, como quase todos – na base do vamo-que-vamo. Em suma, era uma pessoa comum. Agora, leitores, antes de continuar minha história, gostaria de adverti-los para a tragédia eminente que se virá. Os que forem muito sensíveis ou de estômago fraco, peço que não continuem a ler, pois o que relato a seguir é a mais pura tragédia, que nem os próprios autores gregos tiveram a coragem de escrever. Tocamos em frente.
Certa vez tínhamos marcado uma saída, iríamos ver um filme. Cheguei sozinho e encontro a minha deusa. Nem preciso falar o quanto fiquei feliz. Ela não estava sozinha, tinha mais algumas pessoas com ela. Uns amigos e amigas, alguns também eram meus conhecidos, outros eu nunca tinha visto. Nos apresentamos. Minha atenção era só para a divindade ali presente. Conversamos muito. Sobre o filme, sobre a vida, sobre tudo. Não queria que minha namorada aparecesse. Estava muito bem acompanhado. Seria um aborrecimento se ela aparecesse naquele instante. E não é que alguns desses espíritos bondosos que, dizem, ficam nos rodeando, resolveu agir em minha causa. Minha namorada me liga dizendo que está mal. Tinha vomitado muito e não conseguia sair da cama. Ainda fiz teatrinho, dizendo que se ela quisesse eu iria ao seu encontro e outras coisas mais que nós falamos sem vontade só para fazer uma média e mostrar o quanto somos atenciosos com o outro ser.Ela não deixou eu ir. Disse que gostaria que eu visse o filme e depois comentasse com ela. Tudo certo. Ainda insisti um pouco mais. Não. Ela estava convicta que eu tinha que ver o filme. Frisei o quanto estava preocupado com sua saúde. Minha musa ali do meu lado e eu só pensando nela e minhas palavras jogadas para minha namorada; pura hipocrisia. Sou um hipócrita, pensei entre uma frase e um olhar. Mas logo a seguir desisti de ser hipócrita e me tornei um Dom Juan, puro e simples. Mas não sou domjuan porra nenhuma. Desliguei o celular e, contentíssimo, avisei a todos que entrássemos pois minha namorada estava mal e não viria. Sentei ao lado da divina. De vez em quando encostava o meu braço no seu braço. Pegava sua mão. Essa mulher me deixava alucinado. Como pode isso? Quando estava ao seu lado eu não era eu, ou era realmente eu verdadeiro? Sei lá.
Saímos. Filme medíocre. Atores medíocres. Ela gostou. Não acredito. Gostou da fotografia, do roteiro. Sério? Tudo bem, não podíamos ser igual em tudo. Talvez fosse melhor haver umas desavenças de vez em quando. Afinal éramos pessoas com diferentes jeitos de viver e de pensar. Mas confesso que minha deusa me deixou um pouquinho decepcionado. Mas logo passou.Fomos a um bar ali perto do cinema. Tomamos umas cervejas. Quem sabe a bebida amoleça seu coração e seus olhos. Engraçado, às vezes realmente percebo um toque diferenciado seu na minha mão. Um olhar mais profundo. Algo como um pedido de foda-me inteira seu otário. Era a bebida. Já tinha tomado umas 6 cervejas. Realmente estava meio alto. Alguém na mesa pergunta sobre minha namorada. Idiota. Amanhã a verei. Pergunta idiota, rompeu todo o feitiço. Estava quase...tudo bem. Digo que ela teve um mal estar. Nem poderia imaginar que aquele espírito que eu achava que fosse bondoso estava prestes a me sacanear.
Levantamos. Como não morávamos perto um do outro, deixei minha amiga num ponto de ônibus ali perto. As outras pessoas seguiram outro rumo. Ainda fiquei um tempo com ela naquele ponto, abraçados. Como gostaria de contar-lhe o que sinto. Essa não era a primeira vez que ficávamos abraçados, sempre estavámos assim. Fui pra casa. Chegando fiz a minha parte, liguei pra minha namorada. Ela tava mal mesmo. Amanhã vou aí.
Fui. A garota tava amarela. Menti dizendo que estava bonita mas acho que ela não acreditou muito. Me olhava com um ar sério, daqueles que você já acha que algo de ruim aconteceu ou vai acontecer. Sua mãe apareceu no quarto. Mulher bonita, uns quarenta e poucos anos. Transaria com ela numa boa. Mas acho que eu não fazia seu tipo. Nos cumprimentamos. Minha sogra. Caralho. Eu com sogra era uma mudança social tremenda. Mas tudo nesse universo se transforma mesmo. Ela, numa mistura de mãezona e Adolf Hitler ordenou que eu fosse a farmácia comprar um desses negócios para fazer o teste de gravides. Com toda a sua experiência já tinha feito o prognóstico.
Aliás, nesse momento eu também já tava meio desconfiado. Geralmente esses enjôos são fatais. Fiquei perturbado. Acho que fiquei tão pálido, ou de outra cor qualquer, que minha sogra me cutucava para ver se eu estava vivo mesmo. Tentava manter a calma, pensando que ainda não tinha acontecido nada. Tudo era previsões. E se acontecesse? Fudido! Eu estaria fudido. Não tenho a mínima condição de ser pai e ainda mais com uma garota que eu não amava tanto assim.
Fomos até a farmácia. Eu e minha sogra, já que minha namorada não estava em condições de nada, a maldita. Então lá estou eu no carro da minha sogra com um desses invólucros para auto exame. E se ela estivesse realmente grávida. Casar?, nem que me matem. Só isso passava pela minha cabeça e acho que pela da minha sogra também, pois justamente isso o que ela falou. Titubeei um pouco, escorreguei daqui, gaguejei dali. Chegamos na casa dela. Deixei as duas no quarto, fui tomar um copo de água. Minha vontade nesse momento era de sair correndo daquela casa. Nunca mais ninguém iria me ver, mas aí pensei na minha paixão. Relaxei um pouco. Também um filho não era o fim do mundo e ainda mais hoje em dia, ninguém casa. As famílias são outras. Conheço pessoas que têm filhos mas cada um na sua. Às vezes eles nem cuidam direito da criança.
Um grito. Saio correndo, pro quarto, minha sogra chorando, minha namorada chorando muito mais. Eu ainda tive a coragem de perguntar o que tinha dado. Não houve respostas. Nem precisaria. Eu, na flor da idade, iria ser pai. Confesso que não fiquei nem um pouco emocionado. Minha vontade era de desaparecer até que num súbito alvoroço da cabeça, fui até minha namorada e a abracei. E agora?Fui pra casa pensando o que fazer. Tinha que maquinar algo. Mas o quê?
Meu celular toca. Minha musa. Oi. Digo-lhe o que houve. Ela fica estupefata. Não sabe se me dá os parabéns. Falo que não é necessário. Então pergunto o que ela queria. Quer me dizer que conheceu um carinha, mas que isso não tem importância agora e depois iria me contar mais detalhes desse fila-da-puta. Desgraçada do inferno. Me mata cadela. Um punhal no peito. Eu quero morrer. Se bem que não era o primeiro “carinha” que ela ficava. Mas nesse estado em que eu me encontrava, parece que esse seria o seu príncipe encantado. Finjo estar feliz, com o filho e por ela. Digo-lhe que estou muito emocionado para sair com eles. A coisa me pegou de surpresa. Ela, como sempre, entende.
Choro muito, de raiva. Fico o dia todo em casa. Domingo acordo cedo, não vou ao futebol. Eles se viram sem mim.Quero dizer para vocês que a decisão já estava tomada. Passei a noite inteira tramando isso, que relatarei a seguir. Como tinha dito, não fui ao futebol de manhã. Fui e outro local, menos charmoso, mas, dependendo da nossa situação, muito eficiente. E essa minha atual situação era desesperadora e por isso mesmo exigiu uma medida tão ou mais desesperadora ainda.
Fiz o que tinha que ser feito e não me arrependo de nada.Depois, com tudo estrategicamente planejado fui à casa de minha namorada. Ela estava em pé na cozinha. Oi. Perguntei como ela estava. Bem melhor. Então perguntei onde estava sua mãe. Estava no quarto. Disse-lhe que precisava falar com as duas. Chamou. Uma cara de questionamento. Não dei muita importância para isso. Iria fazer o que eu havia pensando. Não restava outra alternativa e eu mesmo não queria outra. Fomos, os três, para a sala. Elas duas ali sentadas me olhando atentamente. Tirei a mochila das costas. Elas continuavam a me olhar. Abri bem devagar e tirei a arma. Um 38 velho e enferrujado. Quando elas viram a arma na minha mão ficaram atônitas e começaram a gritar. Não deu tempo pra mais nada. Dei três tiros. Um na minha namorada, afinal eu gostava um pouco dela. Pegou bem no peito. Preciso. Direto. Ela tombou pro lado com a boca semi-aberta. No mesmo instante. Como se fosse um desses atiradores de filme de ação, disparei duas vezes contra minha sogra. Ela, que já fazia menção de se levantar, caiu sentada no sofá. Um tiro pegou no pescoço. Minha intenção era a cabeça. A outra bala foi na barriga. Aquela barriga que ela cultivava com muito exercício agora estava com um buraco e suja de sangue. O sangue ficou meio pastoso. Meio escuro.
Foi incrível essa sensação. Era a minha primeira vez. Nunca tinha nem atirado antes. Até que me saí bem. Estava muito excitado. Uma sensação boa percorreu todo meu corpo, um misto de dever cumprido. Realmente estava excitado. Fui pro banheiro e tomei um banho. Me masturbei. Sai de lá limpo. Fui pra casa. Liguei para a minha amiga. Ela estava em casa. Convidei-a, juntamente com o carinha, para assistirmos um vídeo em casa mais tarde. Topou. Tudo estava a meu favor.
Tava sem fome, acho que muita adrenalina. Tomei uma cerveja e esperei.Campainha. Eram eles. Já tinha deixado tudo pronto pro grad finale. Fui abrir o portão. Lá estava ela, linda. Um abraço fortíssimo e um beijo. Me apresentou o otário. Apertamos as mãos. Olhei bem nos seus olhos. Entramos. Perguntou sobre minha namorada. Disse que estava pra chegar. Seguindo minha estratégia, chamei o fulano para mostrar-lhe uma coisa no porão e pedi para a minha amiga colocar uma música qualquer no som que ficava na sala. Fomos ao porão, pedi que ele pegasse algo embaixo, ele, sem questionamento nenhum, abaixou-se. Peguei a arma que tinha guardado, e fui pra cima dele, dei-lhe duas cacetadas na cabeça. Caiu. Dei um chute bem na boca. Coloquei a arma bem na nuca e puxei o gatilho. Falhou. Já estava nos planos. Puxei novamente. Dessa vez sem falhas. Adios amigo. Um barulho horrendo soou pelo porão. Saí com a arma na mão. Estava alucinado, gostaria de ver meu rosto nesse momento. Encontrei com ela já nas escadas. Estava branca; quando me viu com a arma sacou tudo. Muito rápido. Começou a chorar. Não conseguia pronunciar uma palavra legível. Não dei resposta nenhuma, apenas um tiro no peito. Caiu. Ainda agonizava quando fui ver. Confesso que fiquei com pena dela. Senti um remorso. Fui bem perto dela e a olhei, continuava maravilhosa. Então passou pela minha cabeça que nesse momento, seu último, e o meu também, pudéssemos compartilhar algo que sempre tive vontade. Tirei sua roupa. Era linda sem roupa, nunca a tinha visto nua, o máximo que a vi sem roupa foi na praia. O sangue escorria pelo seu corpo. Raspadinha. Lambi, lambi bastante e depois penetrei. Penetrei com muita força. Gozei. O tabu estava rompido. Não era mais minha musa. Apenas um corpo estendido ali no chão.Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Queria ver meu rosto. Um monstro assassino e estuprador. Nada disso o espelho me mostrava. Apenas meu singular rosto. Nada de alterações berrantes. Saí e liguei 190.

mijar

fanzine irracional e emocional