- Num momento, desses sublimes, pensei em fazer qualquer coisa em prol da humanidade. Aí vi que a humanidade não valia tanto assim e decidi ir viver num sítio, margeado por um riacho com patos dentro.
A voz era suave e terna. Parecia uma garota na faixa dos 20 e poucos anos. Permaneci ainda um tempo ouvindo aquilo tudo que ela dizia.
Era um relato desses que algumas programações de rádio transmitem.
No final da transmissão, a voz é identificada pelo locutor. Essa suposta garota era uma senhora já com mais de 80 anos. Ela vivia num asilo ou, para ser mais politicamente correto, numa casa de repouso; e ali realmente tinha um lado com patos.
Aquilo tudo me deixou um tanto perturbado. Não por nada mais sério...sei lá, pensei na vida, na minha vida.
Quando eu era criança minha avó dizia que seu sonho era ir morar num sítio no interior da Bahia. Plantar e colher café, milho, arroz; cuidar de galinhas e cabritos.
Morreu antes, numa cidade entupida de carros e fumaças.
Hoje sou um avô e meus netos nem sonham saber o que vida infantil de minha geração era e tinha.
Viver às margens. Digo sempre isso para eles. Eles me olham com aquele olhar perdido e alegre e nada dizem.
As cidades calam nossos sonhos. Matam nossas fantasias. O dia-a-dia é emblemático. Cotidiano jaz em transpiração.
Quando mais jovem quis sempre um local para plantar. Brincar de jardinagem. Correr por campos extensos sem direção.
Continuo correndo num campo sem direção; vivendo num extenso sonho com lago repletos de patos. Brindo à vida com prazer juvenil e fraterno.
Ouvindo o depoimento da senhora garota, pude sentir sua felicidade aleatória da vida. Essa aleatoriedade era marcante demais. Seu depoimento nos transmitia a tranqüilidade que só quem está realmente feliz pode ter.
Ainda tomei meu café. Perguntei pro rapaz que atendia que rádio era aquela.
Minas FM. Era um programa com pessoas que viviam em casas de repousos. A idéia do programa era transmitir como essas pessoas estavam sendo bem cuidadas.
Senti o cheiro da manhã mineira. O sol nascendo atrás das montanhas. Muito delicioso tudo. A vida, o café...
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Um comentário:
jonilson, sumiu?
como anda as coisas, e o livro, sai?
abração
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