Feriado

Feriado.
Ufa! Chega de trabalhar. Gostaria mesmo de não fazer nada. Nesse sentido mesmo. Nada. Mas adquiri algumas coisas e tenho que paga-las. Sim, reconheço que meu trabalho me gera prazer, me dá satisfação. Realmente gosto do que faço. Às vezes não gosto. Assim vou tentando não sofrer muito com o trabalho em si.
Nesse feriado fiz algumas coisas. Fui ao cinema. Coisa que gosto muito, amor mesmo, desses eternos. Estava em casa, eram quase duas da tarde. Pensei em andar de bicicleta. Mas o sol estava terrível, sem tréguas. O ar então...aí olhei no guia e vi que às 15 tinha um filme no HSBC Belas Artes. “Um lugar na Platéia”. Li a sinopse, que nunca dá conta de dizer nada sobre o filme. Mas tudo bem, decidir ir ver esse mesmo, até pela questão do horário.
Fui de metrô para chegar mais rápido. De onde moro, no Brás, até a Consolação, em dias sem muito movimento, dá um trecho de quase meia hora. O metrô custou a chegar, aí lembrei que era feriado; fiquei na plataforma um bom tempo. Veio lotado, parecia horário do pico. Aliás, não existe mais isso, em qualquer horário o metrô tá cheio e esse da linha vermelha, Itaquera – Barra Funda, é o pior. Em todos os sentidos.

Cheguei pra assistir o filme e quando fui comprar o ingresso, a atendente me disse “quatorze reais”. Como?, perguntei espantando, porque nas segundas feiras há uma promoção nesse cinema, o ingresso custa quatro reais. Aí a atendente me disse que era feriado. Tudo explicado então. Ainda bem que eu estava com a minha carteirinha (autêntica) de estudante. Paguei metade.

O filme é ótimo, exuberante até. Mas eu gostei muito, muito mesmo. Até chorei em certas cenas. Mas isso se deu pelo meu estado emocional que estava terrivelmente agravado. Mas isso é outra história. O filme retrata a vida de uma jovem francesa (Jéssica) que saí de um bairro longínquo e vai trabalhar em Paris, num café restaurante que é freqüentado por artistas locais. Através dos olhos de Jéssica conhecemos um outro lado desses artistas, sem glaumor, apenas humanos comuns vivendo seu cotidiano, suas angústias, suas felicidades, enfim, gente com a gente, trabalhadores assalariados. Dentre esses um me chamou mais a atenção. Um músico clássico, pianista, envolto com suas crises com a carreira. Numa cena sensacional ele está no palco, com a orquestra, num solo de uma música linda, não sei que música que era, de repente ele pára de tocar, a platéia dá aquele cochicho básico, e ninguém entende nada. A camera percorre a platéia toda e volta no pianista. Ele começa a falar que estava muito calor e aquela roupa o sufocava. Então ele começa a tirar a roupa, estava de fraque ou algo assim. Aí ele fica só de camiseta e volta a tocar, tão bem quanto antes. Rompe-se ali a questão da roupa com o fato de tocar música denominada clássica. Mas não só isso, toda uma imposição de cultura erudita que subjuga as demais. Como se isso fosse realmente necessário. Inclusive li em algum lugar e nem sei quem escreveu, mas li que música é música, não existe isso de clássico ou popular. Tudo é música.

Saí do cinema mais aliviado, contente até. Pena que o ar naquela tarde estava carregado demais. Fui a pé pra casa, precisava digerir o filme. Desci a Augusta com o nariz doendo, doendo mesmo. Não conseguia respirar direito, parecia que o ar estava empedrado. Por falta de outro termo mais adequado uso esse mesmo. Comprei uma garrafa de água, dessas grandes, e fui tomando pelo caminho.

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