Um destes quebrantes era mais que plausível para mim naquela hora inimaginável.
Carlos. Meu nome é proferido em tom de voz grave.
Carlos. Novamente chamam por meu nome, só que agora é uma voz mais aguda.
Dói o ouvido de tão aguda que é a voz.
Carlos. Mais uma vez a mesma voz aguda. Então depois de um tempo, respondo: que é.
Nada não, só para ver se você está vivo mesmo.
Estando eu vivo, permaneço imóvel na mesma posição em que me encontro. Olho para cima e vejo uma aranha fazendo uma teia. É muito fina, quase imperceptível, mas o alcance da minha visão me surpreende. Consigo detalhar cada linha da teia. Fico arrepiado em pensar que aquele animal pode me matar em segundos.
Carlos, novamente a voz pronuncia meu nome. Fico ouvindo. Cuidado com a queda, me diz a voz.
A palavra queda me diz muito. A queda de todos os impérios ao ínfimo detalhe. Falo isso não por um simples retardo da memória e a vaga lembrança alvoroçada por confusões, mas por outro motivo qualquer. Quero sair daqui, grito para as paredes e elas respondem que se eu sair dali agora nunca mais serei o mesmo. A mente busca algo de conforto. Detalhes marcantes de uma vida que na mediocridade da instância coletiva se perde; a voz que se cala, a promiscuidade absoluta das relações. Falsidades humanas.
Não estava incólume de nada. Apenas as palavras brotavam como água em mina. Apenas isso. O tempero certo para a lembrança imprópria.
Quebrante
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