dinâmica profunda

Tempos idos eu já tinha chorado, mas hoje não. Ainda me lembro que eu comia feijão com farinha com as mãos e era a coisa mais deliciosa que alguém poderia comer na vida. Minha avó sempre fazia essa comida. Sentávamos na beira da porta com as panelas no colo e nos deliciávamos. A qualquer momento essa lembrança me vem à cabeça, a mente divaga num sentido bom, não há nostalgia barata, daquelas que te magoa, não, isso não. São lembranças boas. Mas o tempo é incontínuo...será?
Tudo bem para você seu eu me levantar agora?, era a voz dela me perguntando, não respondo, então ela se levanta. Continuo ali pensando naquele saboroso feijão que minha avó preparava com amor e carinho. Às vezes era nosso único alimento, mas isso não tinha problema nenhum, pois a gente se alimentava de outras coisas. Uma dinâmica profunda de atenção e respeito. Satisfação completa para uma criança. Continuo deitado e olhando para o infinito; em minha vastidão o som é algo que me toma a vida. Os barulhos e os sonidos são exuberantes. Permaneço imóvel, os olhos procuram algo que não sei se quero encontrar.
Acho que hoje é domingo, pois o relógio não tocou. Penso em levantar mas o corpo não reage ao estímulo do cérebro. Permaneço com os olhos abertos tentando rever o que eu precisava fazer hoje. O barulho que vem da cozinha altera meu estado. As pupilas se dilatam mais e com isso o pensamento toma outra direção. A mente volta. O retorno à vida, a condição mais digna que chamamos de viver. Como fazemos para viver dignamente?
O sol começa a romper as frestas da janela e alguns filetes de raio já marcam a parede. São formas bonitas de luz. Realmente hoje é Domingo. Minha aurora não se fez. A vida não me revelou muita coisa. Sair e passear é uma boa idéia.

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