pomadas - jonilson montalvão

Toda vez ele sentia uma dor no joelho. Sua mulher sempre o avisará: amor, procura um médico. Ele, todo sábio: que médico que nada, passo uma pomadinha aqui e tá bom demais.
Mas naquele dia ele não agüentou de tanta dor, mas era uma dor danada mesmo, aí ele chamou a mulher e disse: amor, tá doendo demais, não agüento...me leva a qualquer lugar, passa qualquer coisa aqui, não agüento essa dor...
A mulher, toda carinhosa, mesmo em situações tão difíceis assim, mesmo ela sabendo que já o avisara, e olha que foram muitos avisos, mas mesmo assim ela o ajudou. Foi até a cozinha, fez um preparo que sua avó a tinha ensinado. Sua avó era índia e sabia muitas coisas. Sua mulher trouxe o preparo e passou no joelho dele. Ele todo preocupado com aquela massa gosmenta, foi logo perguntando: amor, o que é isso? Ela, toda dedicada: uma coisa que os antigos faziam. Ele soltou uma risadinha cínica e nada disse, apenas esticou a perna para ela poder passar a solução.
Passado uns cinco minutos, a dor começou a sumir. Ele não acreditou. Aquela dor tão aguda estava desaparecendo, assim, sem demoras, um resultado melhor do que aquelas pomadas todas que ele guardava na prateleira. Ele chamou a mulher mostrou o joelho e disse com uma certa ironia: amor, olha só, sem dor nenhuma, parece mágica. A mulher, toda solícita: mas é mágica mesmo amor, coisas dos velhos índios sábios. Ele riu um sorriso sem expressão, pois não acreditava em nada. Ainda agradeceu a mulher pela "pomada" misteriosa que ele achava que ela não queria lhe dizer o nome e foi deitar. Na cama ela fez um carinho no seu joelho e perguntou: você não acredita mesmo né?; ele sorriu aquele sorriso já conhecido e falou perguntando: acredita em quê?, ela, toda paciente: você não acredita que esse preparado que eu passei no seu joelho foi minha avó que me ensinou?, ele, fingindo ser sério: mas isso é sério mesmo amor, não era pomada? Ela, calma como sempre: não, não era, não estou te falando. Ele ainda retrucou: porque motivo então você nunca preparou isso?, ela: simples, você nunca me deixou cuidar de você, eu te falava para procurar um médico, que você acha que é um cientista e você nada, imagina então essas coisas que você chama de feitiços; o que você iria pensar? Ele, todo sentido: poxa amor, mas também não precisa ser tão pragmática assim, você poderia ter insistido um pouco mais né? Ela sorrindo: tá bom, vamos dormir.

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