Antítese


Antítese

jonilson montalvão


Antítese

Quando abri os olhos vi que estava num quarto. Ainda estava tonto. A noite passada... levantei e fui até o banheiro. Minha cabeça arrebentando de tanta dor. Que sonho horrível.
Olhei-me no espelho: cara destroçada; reflexo de uma noite mal dormida. Não me lembrava de quase nada.
Tinha saído com alguns amigos. Fomos numa festa. Enchi a cara de vinho e outros líquidos. A certa altura alguém chegou com um prato: algumas carreiras de cocaína. Quando acabava, aparecia outro.
E esse sonho que tive: estava nu, correndo por uma estrada e ao mesmo tempo, paralelamente, também aparecia uma garota nua. Às vezes eu conhecia seu rosto. Outras vezes ela se tornava uma total desconhecida.
Abro o chuveiro e entro embaixo. Deixo a água um tempo fria, para despertar. Agora me lembro, tinha uma garota cheirando com a gente; era a mesma do meu sonho. Que estranho!
Troco a chave do chuveiro, de fria para morna. Quando eu estava correndo, no sonho... era a mesma garota. Sim! Era ela mesma... ela corria comigo no sonho. Seu rosto agora me é perfeito. Na festa ela desmaiou. Tentamos reanimá-la; forçamos seu peito com as mãos. Agora me lembro. Abrimos sua blusa. Estava sem sutiã. Fiquei olhando aqueles peitos, peitinhos pequenos, maravilhosos. Algumas pessoas foram embora da festa, talvez com medo. Eu fiquei, juntamente com mais 2 amigos, ali no quarto. Já estávamos chapados. Sim. Agora me lembro. Sim. Tiramos a roupa da garota. Da sua boca escorria uma espécie de espuma. Limpamos. Não estava morta, respirava. Sentimos a sua respiração. Ela tinha cheirado muito; mesmo para nós, mais experientes, havia muita cocaína. Só estávamos nós 4. Eu, dois amigos e a garota ali deitada no chão do quarto.
Minha mente está confusa... mas no meu sonho era só eu e ela correndo nus. Ela era linda. Eu me sentia bem em estar junto dela. Seu rosto... agora me lembro... seu rosto.
Saio do chuveiro. Esse banho me fez bem. Sinto-me recuperado. Me enxugo e visto uma roupa que está em cima da cadeira. Engraçado, não é a mesma roupa que eu usava na festa. Reparo melhor no interior da casa. Estranho, agora vejo que não conheço essa casa. Minha mente está confusa, corro pro quarto. Nada. Essa casa não é a minha casa! Onde estou?? O sonho! Ela estava correndo em outra direção. Eu estava correndo atrás dela. É isso. Agora lembro-me claramente. Eu corria atrás dela. Eu chamava seu nome... pedia para ela parar. Dizia que estava tudo bem; nós... eu... não iria lhe acontecer nada. Mas ela estava desesperada. Foi então que... mas essa casa não é a minha! eu não sei de quem é essa casa. Eu não sei onde estou.
Tento sair. Porta trancada. Chaves? Desespero.
A cama... o quarto... tem alguém lá... mas eu já olhei...
volto pro quarto. Desespero!
Meus atos... minhas ações... agora, como uma febre que nos atormenta e causa-nos devaneios, vejo um amontoado na cama... é um corpo... esse corpo... puxo o cobertor... é ela!
É a garota da festa... do meu sonho.
Essa realidade não é a minha. Inexisto. Sou e estou atemporal; que tempo é esse, que merda é essa? Solto... irredutível... será tão flexível assim essa visão que tenho agora?
Minha realidade tão subjetiva assim? A apreensão dos sentidos... desacordo... a inevitável verdade subjetiva. Não estou acordado para essa antítese.

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