FALANDO EM BRINCAr - Maria José

No seu fazer pedagógico os educadores atualmente se defrontam com um ambiente escolar mais questionador, e as relações de gênero, por exemplo, são questões recorrentes. Será que os educadores estão preparados para lidar com essas demandas? Somos educados a partir de padrões sobre o que é ser feminino e masculino, e geralmente acreditamos que existem atribuições definidas para cada sexo. Esses parâmetros manifestam-se em nossas relações pessoais e, conseqüentemente, também junto aos nossos alunos.
As questões de gênero são bastante complexas e, por constituírem um campo de estudos relativamente recente, precisamos debater mais esses conceitos. Podemos definir Gênero como “[...] a organização social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primeira, mas ele constrói o sentido dessa realidade”[1]. Por se tratar de uma construção social, devemos reverter alguns paradigmas, e inibir a criação de estereótipos na escola.
No espaço escolar (e não só aqui), se observa que há uma visível divisão entre as brincadeiras atribuídas a meninos e a meninas e, quando eles “transgridem”[2] com comportamentos diferentes dos padrões tradicionalmente aceitos como apropriados a cada sexo, surge um certo desconforto entre os professores despreparados para lidar com as relações de gênero.
Lembro-me de uma apresentação de trabalhos do pós-graduação [3], onde foi possível verificar o despreparo de alguns professores para lidar com o brincar nessa perspectiva. Uma professora contou que um aluno preferia “brincar na casinha”. Incomodada com isso, convocou os pais para alertá-los sobre aquele potencial problema de comportamento da criança. Apenas o pai compareceu ao encontro, e após o relato da professora ele disse que por estar desempregado, passou a assumir todas as tarefas domésticas e o seu filho estava apenas repetindo atividades que presenciava todos os dias e que provavelmente achava isso divertido.
O fato de um menino preferir ou experimentar uma brincadeira que socialmente é atribuída a meninas ou vice-versa, não deveria provocar um desconforto tão acentuado junto aos professores. O brincar é um momento de fantasia em que a criança usa a criatividade, reproduz e também cria outros personagens. Deve-se levar em conta que o brincar é parte integrante do processo de socialização que constitui identidades individuais, e que tem um caráter sem fim específico. É fundamental que os educadores percebam essa perspectiva e que estejam muito bem preparados para tratar das questões de gênero na escola.

É muito importante refletir e perceber o quanto as relações de gênero estão impregnadas no brincar e nas brincadeiras, pois a partir do brincar podemos desconstruir concepções falhas acerca do que é ser homem ou mulher. Como professores, temos a obrigação de colaborar para que essas crianças, quando jovens ou adultos, estejam aptas a colaborar para que haja uma sociedade de maior eqüidade e de menos preconceitos.

Maria José Dias de Freitas - Pedagoga, Brinquedista especialista em Saúde Ambiental e integrante do grupo Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (EDGES/USP).

Contatos: profepity@yahoo.com.br

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